Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

terça-feira, 29 de março de 2016

Cátion e Ânion, Nós


Quero, anseio, ensejo penetrar e deslizar em suas curvas cerebrais
Deixar você elétrica, seus neurônios em sinapses infindas visualizando-me
Ouvindo-me
Cheirando-me
Sentindo-me
Me

Quero vagar por entre os caminhos que as veias conduzem, até seu miocárdio
Quero mesmo, quero ver quem dirá o contrário ou o oposto, como quiser que seja proposto
Meu preposto e posposto permanece ser habitar em sua vida

E te trazer para a minha vida

Até que se fundam os dois em um, como moléculas ou mesmo ligações iônicas
A segunda opção parece bem mais forte, eu admito
Cristalizados como cloreto de sódio, salgados como sal de cozinha
Indivisíveis
Mas que até quando solvidos em fortes marés continuem salgando, continuem como um só
E o fogo mais forte não conseguir nos evaporar jamais

Não importa se como tabela periódica eu metal alcalino, você um halogênio, tão distantes
Basta chegar perto, como magnetismo, seus elétrons invadem meu orbital
Me tornam automaticamente seu, te tornam de imediato minha
Conectados como duas partículas no espaço, trazendo gosto onde passamos

E naquele erlenmeyer aquecendo a solução onde estamos nós
Queria fazer a titulação de nossos sentimentos, sem reagentes externos
Só e somente só eu cátion, você ânion
Nenhum cálculo estequiométrico é suficiente para chegar a o quão diametralmente proporcional quero minha paixão com a sua

O frasco não resiste, não pode nos conter mais
Cabrum!

Guerra Florida


O Relógio do Juízo Final marca um minuto para o fim do mundo aqui no jardim
Nem a coleção de hippies do flower power convenceram-nos de abaixar as armas
Nossos euzinhos ainda estão mais afiados que os espinhos da rosa de Saron

Para a tristeza e decanto de todos os liliuns, os lírios dos vales viraram palha seca
Os cravos vermelhos foram pra revolução, mas ninguém os perguntou se queriam
Azaleias e Camélias pisoteadas pelas sandálias que roubaram seus nomes
Crisântemos pranteiam as margaridas e violetas que se perderam no caminho

A raflésia com sua grandiosidade é o perfume da morte de todos nós
O cheiro que nem as pétalas alucinógenas da papoula conseguiram apagar da mente
O néctar dos jasmins e das tulipas como dentes-de-leão foram morder o vento e se apagaram
No relógio florido não há mais rosa-dos-ventos que dê direção, sentido ou tempo
Todas as dimensões do girassol se apagaram como eclipse
Todas as variações de nossa simetria floral, seja de dália, orquídea ou cana-da-índia, assimetrizaram
Viramos fractais aleatórios na nossa guerra para sermos escolhidas e colhidas

Tal como colhem nossas irmãs gimnospermas, aquelas que chamam de frutos ninguém sabe porque
Pinhas, graviolas, frutas-do-conde, e outros tantos pseudofrutos
Invés de perfumarem, são alimento dos homens
Algumas de nós também, mas quem comeria uma flor-cadáver?




A flor de lótus é a viagem de alguns seres para dimensões pouco conhecidas
Já na vitória-régia os mitos nela ainda navegam pelo grande rio
Que inveja delas, pois nesse jardim presas estamos
Ou nessa estufa
Ou nessa floricultura
Ou num vaso, até que a morte nos recolha e encolha em sequidão
Na verdade as flores são o povo humano que secam sobre a terra

A flor-de-lis toca as trombetas da guerra florida
E logo as coroas de flores abundarão nesse chão, junto a caixões
As hortências e íris azularão nosso fim

domingo, 27 de março de 2016

Rest in Peace, Return in Pieces



Pintura de tinta tecido preta sob papel ofício reaproveitado
Poesia feita com caneta esferográfica preta
Modificação de cores no MSPaint
Defunto: Eu (ou o que fui eu)

quinta-feira, 24 de março de 2016

Anatomia Corpo-alma-espírito


Como deseja que eu comece, senhor Alcméon?
Talvez Galeno tenha umas dicas de como usar aquela espada de dois gumes
Para me autodissecar

Aquela parte da máscara também, e a maquiagem do Palhaço Brigadeiro igualmente
Pele falsa igual aquela fabricada no PhotoShop por alguém que parece um ótimo espécime para isso

Estou com a serra, a faca afiada de palavras sanguinárias escorrendo pela lâmina
As fábulas e parábolas espirram das veias e artérias cerebrais, o encéfalo pulsante e repulsante, repulsivo
Consigo enxergar cada minuto de pavor que pesadeleou, cada delícia que sonhou
Seus temores, poucas virtudes expostas, diversas sinapses viciadas nas concupiscências
E até o último centésimo de segundo que o cerebelo manteve o equilíbrio corporal antes da inércia
e que a lei da gravidade impulsionasse a força magnética centrífuga dos corpos estáticos ao centro do planeta

Nas sinapses a alma ocultou-se e enviou-se a cada ponto corpóreo
À pele, trazendo o perfume carniceiro do suor para evidenciar o cansaço e o prazer carnívoro
Aos olhos, dilatando-os a cada lascívia, lacrimejando-os a cada beleza partida e perdida
Ou a cada fingida, sabe-se lá
À língua a cada mordida dentária o degustar da vide e do amargor do quiabo, ou do diabo, quiçá
Aguardando a fricção dos lábios em algum outro, lábios superiores e, porque não, os inferiores...
Desliza ao trapézio, deltoide, bíceps e tríceps, rumo aos flexores para fechar as falanges
que colidirão rumo ao bucinador doutro alguém cobertos de força, fúria e violência
Ou apenas em busca de um arco para esfrega-lo às cordas de um violino
que soprarão cantigas consoantes, dissonantes, afinadas ou com um "des" antes
contra os músculos auriculares, o martelo baterá na bigorna que vibrará o estribo no nervo
para a alma dançar, junto aos fêmures, patelas, tíbias, fíbulas, tarsos, metatarsos e falanges
Dependendo da canção, esses ossos podem estar cancerígenos,
tamanho o desgaste com o terror em partituras partidas e recortadas, sete notas perdidas

Repassada a liberação de feromônios, lendários sedutores da alma
Nasce a adrenalina que nos conduz aos atos libidinosos, profanos, proibidos, ou apenas aventureiros
A serotonina que nos embriaga mais do que o etanol do vinho
A dilatação advinda da dopamina e o relaxamento da endorfina
Minhas células de Leydig enlouquecidamente produzem testosterona
Loucas para encontrar com alguém com muito estrógeno e progesterona para ovular
Copular
Circuitos repassantes aos músculos penianos em movimentos repetitivos contra paredes vaginais
Versos marginais do fundo da alma vibram das cordas vocais em orelhas alheias

Antes que o que sobrou da somatotrofina desapareça e nada mais em nós cresça e apareça
E a epiderme, derme, hipoderme, vire e revire-se em rugas e pés-de-galinha
E todo o resto do corpo-alma comece a definhar e o estômago não consiga mais digerir
Ácido clorídrico invadindo erroneamente o duodeno, futuro sinal de apêndice inchado a explodir

Enquanto isso minhas grandes narinas alertam com o perfume das brumas da erva daninha
Per-fumada
Traqueia, brônquios, pulmões, alvéolos, preparem-se para um ataque nuclear
Cof, cof, cof, cof, cof
Pós após pó, o crack nas veias pulmonares indica ao miocárdio que veneno vai corpo adentro
Cada um dos capilares se manifestará um dia na queda capilar sobre mim
Minhas unhas manchadas e ao redor da íris a ponto de implodir os nervos oculares

Mas e o espírito, onde andou nessa dissecação?
Pelo visto está ainda deitado em seu caixão a espera de um alguém que o ressuscite, quem sabe

Não sei se irá


Mas nessa história insana que tornou-se minha exposição de entranhas estranhas
Apenas recomendo a vós, alunos e futuros, eu espero, autodissecadores
que o que sobrar desse cadáver ambulante que vos fala tenha uma sepultura digna com uma bela lápide
Algum epitáfio bonito, ou até aquela frase de caminhão
que do reto de algum caminhoneiro escapou como flatulência mortal.

 

Homenagem (ou quase) ao
anatomista alemão Gunther von Hagens, conhecido como Dr. Morte,
curador de uma das mais polêmicas exposições de arte, 
usando cadáveres humanos dissecados reais

Poenimal (pros leigos, Poema Animal)

 
Os porquinhos nos chamam para o passeio até o abatedouro
Toucinhos e bacon de carne humana, miolos e miocárdio suíno
What is disgusting for you, little sick bastard?
Prepare o bredo de seu credo nas tradições pascais, sacais
No nauseabundo pomar de nones, trago uma raflésia para perfumar tudo com a podridão
E o coelhinho da páscoa virará churrasco

Pode limpar meu batom, o seu rebu é da cor do meu desespero atrás do reflexo do espelho quebrado
A teoria do caos é pura teoria e nada mais, não delimita nem infinita meus fractais
Nem minhas fracções de mim, fricções de ventanias estúpidas no meu ouvido interno
Qual o próximo psico-pato que irá grasnar o canto de cisne em sugestão como minha trilha sonora?

A gente devia ouvir mais o que precisamos, mas é um saco... é melhor ouvir só o que tamos a fim
Mas todas as páginas do livro do Destino trazem a esse lugar
Todos os caminhos de seu jardim têm escrito a mesma carta-testamento

Meus balões de fala estão vazios, você não consegue ver isso aí fora do meu quadrinho?

Coordenar a Destruição é um papel inútil, supérfluo e desnecessário
Nós fazemos questão de apertar o botão do self-destruction por nossa conta e risco
Para flutuarmos como corvos e gralhas em sangue, entranhas e penas espalhadas no ar

Não há interlúdios nem pedidos de tempo quando as hienas e os abutres estão a me circundar
Ciceronear

Eu escuto suas risadas e seu anseio para que o agonizante desista duma vez
Meu moedor de carne está à minha espera para encaixotar-me em alguma linguiça ou salsicha
Ou algum outro defumado qualquer
Na criptogeografia das savanas e pradarias inexistentes nas jaulas do circo e do zoológico
Cada macaco no seu galho, ou com seu galho de arruda, ramo de trevo de quatro folhas
Vai saber se vai dar sorte ou serão selecionados pro próximo teste das cobaias decepadas

Viramos ração das galinhas gordas e usuárias de ternos e paletós chiques

Grilos cantarolam a noite adentro a pino e ao relento
Com medo das rãs e sapos estragarem tudo no brejo ao lado com seu coaxar que só Bandeira soube descrever e elucidar
Fiadores de palavras incompreensíveis, tendo a pensar que belas, que nem os papagaios imitariam

O frio da minha pele, lagártica, fugidoura das áspides
O muco pegajoso, tal qual rastros caracólicos em meio aos buracos de minhoca
Nenhuma outra dimensão consegue me tirar da selva do Rei Leão abraçado ao Tarzan
(Ou ao Jim das Selvas, se você gosta de quadrinhos descaradamente plágios... como sou um plágio de mim mesmo de algum tempo atrás, menos animalesco)

Só os cavalos por testemunha... ou os jumentos e mulos, que nunca responderão por si mesmos

Nossa colônia de paramécios continua disputando contra as amebas errantes pelas partículas de sustento
Mas as amebas continuam sugando, bactérias e bacteriófagos disputam o que sobrou do fim do mundo
Até o retroviral e o antibiótico como um dilúvio nos afogar

As fadas da morte, mosquitos e pernilongos, nasce do ovo ofertado um escorpião
E do pescado pedido sai de dentro a naja com sua peçonha preparada
O plâncton é nosso maná no submundo incompreendido pelo Homo Sapiens Sapiens
Único animal que recusa-se a se admitir como tal

Ou talvez não... a gente continua usando aquele velho ditado "filho de peixe é peixinho"
Para persistir em não desejar a alegria de nossos filhotes, mas sim a nossa
Projetando nossa vontade como a deles, nos deificando,
ainda que tolamente continuemos animais rumo ao abatedouro
E não como o Cordeiro Mudo, mas reclamando até nosso cacarejar perder o fôlego e nós a cabeça.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Poema Obnubilado


Todo deleite é passível de virar delírio
Eu sei bem
E como

Talvez recordar sabe-se lá como do criar da Terra do seu nada, de seu pó estrelar
Seja apenas um retorno mental de nosso status original, o pó terrestrial
O arrependimento não mata, ao menos não tão rapidamente quanto imaginamos
"No dia em que deste fruto da consciência degustares, a morte será certa"
Ainda que em modo, formato, motivo e tempos incertos, ela sempre nos levará de volta ao pó

Certos licores são invencíveis depois que provamos seu sabor proibido
Insaciáveis, incessantes
O Ankh ainda me dá a visão nesse deserto copta para renascer meu vigor nas águas do rio do Senhor
Vidas humanas inocentes parece-me um oximoro, um paradoxo insolúvel
Nesse reino de heróis esquecidos, o que nos resta na poeira de uma nota de rodapé das biografias
É crer que certamente fizemos a diferença para alguém,
e salvar a nós mesmos dos dissabores do cálice pecaminoso, venenoso, de ira e morte

O mar do esquecimento é tão sujo que pular nele nos traz lembranças de nossas excretas perversas
Lá como cá os cães ladram, mordem e não deixam ninguém dormir
A carne no prato de Calígula parece-me repulsivamente apetitosa
O perfume da carniça pecaminosa deita-se em minhas narinas, sufocando-me
Morri e esqueci-me de pedir socorro a alguém que pudesse ainda me amar

Não inventaram palavra para quando você esquece de como é se apaixonar por alguém de quem você gostava muito tempo atrás
A tenhamos por "desapaixonalizado"
Sei que não vai colar para ninguém, sou um poema, sei bem
Eu descrevo momentos confusos da mente difusa de um autor em parafuso

Falcon é só plástico ante Tito e seu machado da morte e a voz dissonante de Flappy em minha mente
Se você nunca ouviu falar, permaneça inaudito toda essa sandice
Vidas breves aos deuses que a muito morreram nos nossos sonhos perdidos
Quem imagina o que o delírio vê em seus olhos desiguais?
A antimatéria consome lentamente todos os sonhos juntamente com meus neurônios
O húmus, juntamente ao meu humor aquoso escorrido em lágrimas, germinou meu anseio

"Hello! Is it me you're looking for?"
My Donna dominou meu cérebro forever e ever ou never
A autodestruição manda lembranças ao cérebro dos viciados na justice by my own hands
Não preciso de nanocontos nem de versiprosas como essa aqui que se autodescreve e escreve-se
Para perceber-me obnubilado pela inexistência no dicionário onírico
Não é o amor que é cego, apenas o destino o é
Ou isso ou aquele outro ente que chamam de amor que também não é nada cego, vê até demais
Ambição, ser maligno, qual momento de comer do fruto da consciência e certamente morrer
Ganância, seu sinônimo, mãe do Pecado, avó da Morte.

K-Pax me chama para viajar até ele de volta
E eu como partícula e onda, feixe de luz arcoirisante voltarei ao meu lar
Deixo esses versos de trevas no mundo das fábulas
Quiçá um banquete com malfeitores hei de participar um dia, se os versos anteriores assim falarem
Ou posteriores... o tempo as vezes é como pó, ninguém sabe se o vento levará pra frente ou pra trás
É na poesia que se consegue o impossível: voltar nos instantes perdidos e até os modificar

Ou é tudo loucura mesmo desse poema tão tresloucado e senil
Tal qual o poeta que o redigiu e voltou ao seu caixão para descansar mais um dia

terça-feira, 22 de março de 2016

Banquete Imaginário de Malfeitores Perdidos


Tocatta tocada nos retoques ressoados de um lugar que se esqueceram nesse mar de nadas
Nosso odre de vinho já estava na conserva a muito tempo, talvez mais
Morpheus, o senhor da terra dos sonhos, o perpétuo mais misterioso, nos chamou
Hoje reinaremos e as imaginações e pesadelos invadirão à realidade
No banquete imaginário dos malfeitores perdidos num século ignorante ignorado

Assentado na cadeira do pai da família, Augusto, imperador das poesias da terra brasillis
(Ou talvez só da Feira do Seu Santana, quem sabe)
Repassa o passe compassado e combalido dos gênios da velha Grécia
e seus pergaminhos escritos a duras penas de faisão selvagem
Inspiraram bem um sem-número de cantadores, trovadores e esses malditos escritores amadores

Como Johnnÿ D., testemunha desse banquetear, João Dias que decidiu virar outro ser
Ou ser o que ele sempre quis poetizado e poetizando a si mesmo e ao mundo numa aquarela escrita
Chorada, pisada, sangrada, sorvida como vide estragada, vineacre
Reclamando da vida 'té que um dia reviveu feito fênix negra, mais forte e incontrolável, indomada.

Dos confins do mesmo asteroide perdido do anterior vem o segundo da linhagem dos Edilsons
Violeiro dos sertões, talvez não os mesmos de Euclides, nem os de Gonzaga
E talvez tudo e mais um pouco de ninguém sabe que planeta errante, meteorito em contos e fábulas
Quem conta um conto aumenta um ponto, nele a pontuação já quebrou o registro de recorde

Da coorte augusta também provém o trio da baía de todos os santos e profanos, anjos e demônios
Heliabe abre seu papiro e declama o réquiem dos homens sem alma em placebo incurável
Também vem a tão rara pedra preciosa, a dançarina Julliana, imperatriz de nossa sina
E o assombroso lamentar do Ticão com seu tição em brasa contra as bocas-de-lixo

Do extremo norte do Nordeste desse reino desencantado vem Thiago, o profeta Jonas
Com o bafo do peixe que o consumiu ainda a lhe perfumar
Mostrando o desastre das Nínives de um planeta que brinca de salto sem corda no abismo
E daquele Norte realmente ao norte, perto do coração da nação a Jannyffer traz encantos
Dos recantos, cantos dos pássaros e riachos e o rachar das tumbas dos desgraçados
A fé é a sina dos corações antigos que incansavelmente esperam e só

Do calor de 40 graus Celsius o anjo Gabriel, por vezes tomado como um ser de nome incompreensível
Ga
        Vaz
                 Bu
Traz consigo algumas fictícias fotos de nossa situação tão troço, tanta troça em prosa e em verso
De igual modo que o Luciano vem com seu eletroencefalograma, psicoterapia
que parece a imagem psicopata que nos incita todo insensato dia
A Kathleen e sua estrada da vida, tão desgastada pela erosão crescente que também passeamos
E o Felipe Marcos com o refrigério poético que provém de seus versos tão filosóficos

Lá dos repentes distantes de São Paulo, as vezes relembrando o passado pernambucano
O profeta Elias, errante caminhante dos desertos traz aquele velho conto de seu velho recanto
E o Lucas Motta com seu novo dialeto ignoto, quem saberá falar, todos nós no fim
e a pequena advinda do reino do Norte Yasmim nos trouxe o nosso espelho, reflexo das almas
Desafogar desses mergulhos que clamam pelo fatal, ela vem à mesa para também compartilhar
desses choros afogados do dia-a-dia, Bia, Bea, Beatriz do centro do país
A única que nos mostra que na verdade nosso banquete está no centro do picadeiro de um circo
E o público ri de nossas palhaçadas, atropelados pelos elefantes e devorados pelos leões

Chamamos também a temporã Maria Tavares e a também rara Marina
E mais aqueles que passaram e vez por outra reaparecem
Cada um que por um triz passadamente ficou nesse banquete imaginário da imaginação
Brandim, Marvim, Isa, Jéssica, Rafael, Fernanda, Raphael, Érika, Eduardo...
Tantos e tão poucos, sociedade dos poetas mortos-vivos
Contos, poemas, versiprosas, crônicas, vai saber o que mais
Quantas bibliotecas, físicas ou virtuais, seriam capazes de conter
Tantos porquês arrotados nessa reunião de almas perdidas no tempo e espaço
No fim de tudo, não passam de malfeitores perdidos no mal desse século insensato
que ultrarromanticamente sonharam um novo mundo
Colorido, cinzento, preto-e-branco, no tom do som do momento... ou do tormento
Quando vão se reencontrar uma vez mais?
Dia desses aí, capaz...


(Homenagem à equipe do blog Os Malfeitores do Século XXI)

segunda-feira, 21 de março de 2016

Entitulado como "O Poema que Consome"


Onde foi parar o bem maldito que esqueci de guardar em meu leito?
A poeira sobre ele está clamando pela sua irmã, minha pele, meu pó
O demônio da destruição mental nos torna criativamente imbecis
Ecumenismo de nenhuma fé, nenhum deus, nem deusa, nem você

E aquele demônio da curiosidade curra minha sanidade todo dia
Phicando claro para mim que meu pior facto é insistir em passadear
E passear no passado para lá insistir em habitar é coabitar com a tolice
Mas esse desatino cretino é apenas a persistência das grades da prisão da safadez

I see what you did, little bastard child
Você nem imagina e ainda se pergunta o porquê eu caí fora daquela velha fazenda
Nesse mundinho de laranja podre em que uma vida vale menos que uma pedra de crack
Ou um maço de maconha, ou o que quer que você enfie no seu corpo por onde você desejar
Você acaba tendo que reaprender a cuidar de si, quiçá renascer, criar asas novas
Pra voar até alguém, você, ou não, outro ser, ou só voar mesmo, é bom beijar o vento
No mesmo lugar onde um dia nossos esqueletos darão ósculos santos
ou profanos, depende de quem vê, e do poder do juiz em dar seu veredicto
Pena capital é nosso rumo inegável
Resta-nos fazer o que podemos para voar alto e cantar inda mais
Para nossa certeza final ser de que a morte nos levará, mas nunca levará nossa voz
 

- Que poema fecal esse... parece comigo... talvez com você.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Olhar Consumido Meu, Consumado Eu


Minha vida... caminhos descaminhados por mim mesmo
Desertos poeirentos por detrás e por diante, culpa minha, quiçá
O gosto da cicuta na boca, feridas abertas por todo o corpo
Fel e vinagre são doces delícias que sorvo todos os dias

Os olhos claros da belíssima ruiva que contemplo e desejo ardentemente
Nunca se voltarão pra mim com o mesmo gosto e anseio
Uma estaca cravada contra mim, o pó é meu destino
Tal qual esse coração infernal que bate insanamente e me fere consigo

A luz é só um momentâneo suspiro dessa vela
A parafina e o pavio estão por um fio, tal qual meu fôlego
Jogado no nauseabundo odor dessa minha carniça morta-viva
Caminhando está meus sonhos rumo ao ostracismo abissal

Eu acredito que o Senhor das almas pesadas, ainda que imundas como a minha
Ainda ouvirá esses versos manchados de sangue escorrendo incessantemente
Lágrimas se misturam com essas partículas de meu viver se esvaindo
Como bosques em coma vergando-se, assim desfalece a esperança, morta antes de mim mesmo

Acho que meus olhos não conseguem contemplar o espelho
e ver que sou tal qual esse colapsado planeta Terra, caos é o nome da nova ordem aqui
Tudo se consumindo e virando sacrifício a todos os ídolos da ignorância
E todos se digladiando em homenagem a todos os mestres do nada

Em mim não vejo mais futuro... só o Senhor de todos pode nos salvar
Mas preferimos ainda o abismo a admitir que precisamos de socorro
Pulemos então, e conheçamos mais um pouco do nosso querido inferno
Entorpecidos dizemos sim, vinde morte estúpida nos devorar

Sonhos... em pedaços
Diamantes valiosos jogados no lixo
Desejos que tive, mas que morrerei e nunca os verei
Perda de tempo, tudo em vão
O chão me chama, clama, seis pés abaixo dele estar
E daí pra mais baixo em certeza me arrastar
Meu imortal suicídio, consumada desintegração
Oprimido por mim, por ninguém, meu beijo com meus lábios encinzenta-se
Sopram os ventos do Hades a carregar as cinzas rumo ao tormento infindo
Adeus nenhum, pois que hipócrita o abandona e o recomendaria a alguém?

(Acordado desse pesadelo estou...
Ou seria um aviso de meu rumo até aqui?
Socorra-me!)

quarta-feira, 16 de março de 2016

A Morte dos Vampiros


O meu demônio pessoal veste Prada, mas também veste outras grifes, ou nenhuma
Na verdade parece mais disposto a estar despido para seduzir minha alma
E o seu, qual seria? Um suborno, uma garrafa de absinto, uma fofoquinha
Num país de comédias a tragédia não é definitivamente nenhuma marolinha

"Não adianta ir à igreja rezar e fazer tudo errado"
Minha sina e meu anseio de me libertar desse mau bocado
Queria poder ser um vampiro, me esconder de dia em algum lugar
Para o sol não me mostrar tanto absurdo que invade meu olhar

O amor se desfaz em pó igual nossa existência infame
Eu sei, já desperdicei alguns, "não reclame"
Eu falo que vivo, sobrevivo
Acho que se essa palavra existir, eu apenas subvivo

Pior ainda é perceber-se não ser o único assim
Todos ao meu redor são vampiros da desesperança no fim
O sangue venenoso que sorvemos não nos deu salvação
Vejo apenas que estamos jogando-nos num abismo por essa imbecil direção...

sábado, 12 de março de 2016

Catástrofes Desumanas


Dilúvio de palavras
Incêndio de contendas
Avalanche de besteiras
Trovoadas de desamores
Deslizamento de alegrias
Seca de amor verdadeiro
Congestionamento de confusões
Erupção de ódios
Tornados de raiva
Ciclones e furacões de corrupção
Terremotos de desconfianças
Maremotos de ilusões
Meteoros de maldades
E de mais a mais
Mais um monte de desastres
nem um pouco naturais
recaem sobre nossas costas
rachando sob nossos pés
Como sair dessa maré?

quarta-feira, 9 de março de 2016

Undergroundance


The seeds of mystery
The lost in dark room
My life, your life
Mourn in silence without hopes

Undergrondance close to the edge of hell
The whispers of dead men and women cries in my hears
My luck's star was turn off
Love is a suicide, and I want to die with him

Kill me
But kill me slowly
Show me your sorrow, maybe my sorrow is the same
The pain in my soul, in my flesh

My dance in this abyss, this underground, this occult place
I want you to dance with me in the eternal circle
of life, birth, love, sons, and death...
...or and rebirth, I hope, I creed

quinta-feira, 3 de março de 2016

Auto-retrato 3x4 ou em quaisquer outros formatos que você quiser


Tá tão escuro aqui
Parece meu coração
Corpo fechado
Estou em negação

Estou no quarto estágio de luto, sinto
Depressão
Estou tão triste. Por que me preocupar com qualquer coisa?
Mas percebo dores paralelas...
E assim uso essa dor
Sem escalas

Essas pessoas, essas tolas
Odeiam sem motivo, me cospem sem razão
Me rejeitam, desejam minha morte tal como eu mesmo a desejo ou pior
Não são invejosas, são apenas almas que falam de amor e não o conhecem o ou praticam
Ridículo

Nesse mundo desnudo
Os nudes são apenas mais uma flor do jardim do perfume diabólico da morte infernal

Palhaço fui um
Ainda sou
Só que sem maquiagem e sem nenhum humor

Você também é... ou foi... todos foram, querendo ou não
Alguns ainda são e nem percebem a maquiagem escorrendo com suas lágrimas

O novo bobo-da-corte dos reis da insanidade humana, a fila está imensa
Aguarde em seu lugar a sua chamada


Poesia escrita com alguns versos de Jannyffer Almeida