Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

domingo, 24 de abril de 2016

Poema Dolorido


Eu só queria sentir seu sangue bombeando pelos seus lábios
Implorando que os meus não parem de te espremer
Poesias me cansam, quando são apenas e eternamente versos
Estou pálido, anêmico, desejoso de todo seu sumo e suor

Não há caixões que comportem pesos mortos como minha imaginação
As Rainhas da Misericórdia estão de luto, contemplando meu mausoléu, meu quarto de solidão
e meu desejo de voltar ao trono, à taça com o tesouro das uvas pronto para mim
Mas a luz do sol me fere como um punhal rasga a pele de um cordeiro sacrificial

O primeiro, o último, o eterno, o nulo
Ainda há algum lugar para ir nesse lugar nenhum? Pode responder
Esse tolo sonhador que esses versos chora, ignora que eles não escorrerão do papel
Poesias são mentiras bonitas, nada mais, pois nada mudam no fim

(Pois) ninguém que leu tudo isso já decidiu parar de me ferir com seus açoites verbais
Seu desprezo, uma espada de dois gumes arrancando minh'alma de minha existência
Tua frieza me fez congelar as veias e artérias, meu sangue em gelo me cadaveriza
Ainda há quem tenha piedade de um poeta perdido dentro de si mesmo?

Mas não quero pena. Nem piedades vãs
Não supro carências, por que seria eu tolo de desejar que outras o façam de mim?
Apenas quero que aquele versículo que Deus teria derramado seu amor sobre nós
Faz realmente algum sentido, ou ninguém mais dá a mínima para esse presente.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Ovos de Páscoa


Fiquei cerca de quatro horas pensando o que escrever
Em letras feitas de chocolate derretido, qual o recheio desse ovo de páscoa?
Meleca amorosa nessa minha aliança, nesse jantar à luz de querelas
Iniciei mal, bem mal, que mal, sou um rapaz mau, fora do padrão que você molda
Negar-se a si mesmo em favor de outros é um saco, mesmo que seja um filho
Independente disso, continuamos doces em nosso amargor
Semiótica não enxerga nossas ilusões que comandam-nos como realidades únicas
Macacos continuam gesticulando "Não vejo, não falo, não ouço"
Obliterem, ostracismo, não há mais espaço para você na Revolução Cultural
Fotografias espalhadas no chão, joguem os professores velhos no vaso sanitário
Ei, sorria, tenho um gás do riso do Coringa para você ficar rindo até apodrecer
Doidos, discursam em púlpitos, palcos, palanques, panquecas, palmitos, podreiras
Em nossos rostos o rejubilar é uma cicatriz da libertinagem escravista

Catalogo pinturas de Giotto, pinacotecas das crenças mais odiosas pelos hodiernos
Os velhos valores substituídos por velhas mentiras
Morcegos sabem bem como esse mundo hoje se vê, o inverso do que tudo foi, é e deveria ser
Uns falam que é retrógrado, retrocesso, retroalimentação, retrospectiva, retratos em preto-e-branco
Na verdade eu percebo que a regressão é a verdadeira face de suas polaroides de progresso
Instalados nas cavernas e catacumbas, continuam se escondendo as verdades que ofuscam os míopes
Siga em frente, olhe para lado, o cavaco se quebrou, não há mais cordas para batidas
Todos os salvadores da pátria, super-heróis e robôs gigantes, todos são mentiras
Admito, bonitas, mas mentiras
Só que as pessoas acreditam nos barbudos, nos bigodudos, nas pretensas mães de ninguém
Bagagens hediondas, hedonistas, e tudo que dizem é que gostam de chocar os "padrões idosos"
Uma velha profecia dizia "pais odiarão filhos, e os filhos irão desejar o mal dos pais"
Relaciono tudo naquele caderno enorme de casos sem solução da justiça injusta
Refaço os passos que nunca quis dar, que nunca dei, que não me lembro
Os passados que nos condenam são os mesmos que comemos na páscoa, bredo adstringente
Sua vez de dizer o que tantos já discursaram: você é um completo imbecil fora de si

Têm mensagens e discursos e pregações e doutrinações que só Deus entende como persistem
Com governos da complexa arte de espalhar cadaverina e deixar todos em coma induzido
Hora de cozer a todos, ou coser todos a uma camisa-de-força, pendurá-los numa forca
Agora abaixe essa arma, aguarde o meu sinal e pule, vá beijar o fundo do abismo
Um lembrete: mande saudações ao inferno, informe que você foi idiota de descrer
Ponto de ebulição, adeus, não precisa de me abraçar, não gosto de seu recato nem sua regata
Temos muitas vagas, deixe seu currículo e morra

Até logo
Com pouca criatividade, esse poeta cansou-se
O que será que virá a seguir? Processos, choros, pavios curtos
Redijam canções de despedida de toda essa bobagem
Demônios mais fortes são aqueles a quem cortamos suas asas
Elegi minhas elegias, me despeço dessa sarjeta
Minhas palavras são inúteis
Tenho vergonha
Ok
Lambam minhas patas
O
Sinal

terça-feira, 19 de abril de 2016

Política mente incorreta


Todo dia é dia do índio, vamo ficar pelados!
Nudismo só é bom com pelos, peludos, peludas, ou peladas em santos?
Global beleza nas tintas e purpurinas ocultando a desavergonhada
Você escolhe se é produto ou subproduto, mas ainda estará à venda, parabéns
Levanta a calcinha no show, na boate, na esquina ou no DVD pornô
Se dessa cueca saírem dólares, pouco importa o tamanho (e a limpeza) da genitália

E daí alguém canta "Sílvia... piranha" e você se contorce, parece até diarreia
Parece inclusive que cagou nas calças e tá tentando disfarçar a merda e o vômito
Você se indigna, mas a maior indignidade exposta de pernas abertas como Sharon Stone vc ñ vê
Baseado nos seres enrolados num papelote e sendo queimados e fumados, pulmões assados na brasa
Tenho certeza que o único liberalismo imbecil é essa bosta que tantos defendem
Com camisetas com a cor do sangue do filho de vagabunda argentina que ostentam no peito

Pior que ter de existir Maria da Penha, é ter filhos viciados em ouvir danças animalescas
Viramos rãs, macacos, cachorros, cachorras (ou, se preferir, cadelas)
Involução Darwiniana, pros trouxas que acreditam nisso, claro, mais parece que voltamos pra trás
Religiosidade de quinta categoria continuam a ciscar no galinheiro dos ovos de ouro
que esses idiotas úteis põem para sustentar vagabundos com um diploma de teologia fedendo ânus
Escatologia no caso deles não é futuro, é o outro significado suprimido dos dicionários

A fossa aberta de visões politizadas falidas que sempre deram em vergonha na história
Se iguala a tantas que falam com bafo de cadáver essa grande bosta que "todo homem é igual"
mas continuam a preferir os mesmos iguais mais do mesmo que só querem suas vaginas e só
Parabéns, cagadores de regras que não cumprem nem o que cagam e comem do que defecam
Ezequiel 23:20: "e transou com seus amantes, que tinham pênis de jumento e gozavam como cavalos"
Continuamos nossa prostituição nossa de cada dia, damos hoje, daremos mais até morrer

Não há nada errado em masturbar-se ante a nossa imundície que geme desejosa de nossa carne
Pedaços do mau caminho imploram por realizar felações, e nós traições
O circo de palhaços cantam coros impublicáveis de pornofonias, alguns cospem, outros torturam
enquanto isso os espectadores continuam no chiqueiro comendo ração com os porcos
Sinônimos pervertidos para seus órgãos genitais, clitóris duro, a novidade do momento da estupidez
Na verdade, Tim Maia, vale tudo tudo tudo mesmo, cale-se, politicamente incorreto gordo pançudo

Estou eu a me calar, porque opinião é crime, se não for a sua, pois a sua é a única coerente, eu sei
Minha ironia e sarcasmo fedem a enxofre e peido, sinto muito por tantos versos malditos
Eu sou apenas um ser de reto grande demais, admito, ao menos não alargado como o seu
Ofender é grátis, se vier com a estampa da estrela que escurece tudo, inclusive os cérebros
E antes que você defeque frases estúpidas sobre racismo, eu aviso que não sou latrina pra te ouvir
E a política mente incorreta aqui corretamente é a sua, que mente pra si mesma a toa, burra tola

sábado, 16 de abril de 2016

Madrugada de 15 de Abril de 2016


E eu cai
Num profundo abismo sem ver as cores do arco-íris
Pois a escuridão despedaçou o prisma e o facho de luz se perdeu no espaço sideral
Eu caindo
Sem saber onde será o fundo do poço, ou se vão cavar um pouco mais abaixo
Até onde meu corpo como átomo na imensidão do vácuo irá ser sugado rumo a uma fissão nuclear
Minha Nuclear Football caiu nas mãos de presidentes errados
Cabrum, quando virá
Eu cairei

Lá atrás me perseguem os monstros da sociedade esquecida e reinante sobre nós
Eles não me deixam em paz, como pedras rolantes em uma avalanche
Rock'n'roll com suas mandíbulas babando, minha carniça ansiando
Será que há alguma saída, algum esconderijo, ou apenas mais abismos?
Meu outro eu, perverso irmão que deseja se apossar de minha pele e por fim ser eu
A rainha das inseguranças me fazendo devorado por mim mesmo

Meu corpo em exposição, como um animal no zoológico, desnudo
Minhas vergonhas expostas, entranhas, estranhas
Os sorrisos de meus erros e estupideces, agora são risos alheios, alheios à minha dor
Ao meu pânico ao vê-los da minhas inseguranças tecerem a próxima atração do circo Thiani
Impossível pensar em deixar que meu anseio rubro ruivo tivesse o azar de meu eu contemplar assim

De quedas a uma explosão do meu velho Fusca MeiaOito
A culpa sempre foi minha, sempre é, sempre será, não precisa repetir
Acidentes acontecem, mas isso não isenta nossa estupidez
Quando perdi um anel de ouro de tantos quilates aí, ou quando deixei de conquistar sonhos idosos
Não adianta enfiar as circunstâncias no banco dos réus que é todo meu
Veredicto: Culpado
Pena: Capital
Execução: Sumária

Invés da morte, a mutilação
Braços e pernas se vão, em vão, por vãos e grãos de terra os cobrirão
Lívida e vívida esperança decapitada caminha agonizante até que não hajam mais impulsos reflexos
Minha hematridose escorre como suor por meus decepados membros, dores fantasmas, coceiras
Castração, inutilidade, jogado à sarjeta, irmã e mãe dos enjeitados... re-jeitados

Perdido, sem lanterna dos afogados, no mar aberto
Aguardando meu tubarão fazer sua refeição
Hemorragia o atrairá, um deserto d'água, encruzilhada de mil cruzes cruzando-se em circunferência
Quase todos caminhos que segui outrora só me fizeram ficar salobro, pulmões úmidos
Será que haverá ao menos uma praia para morrer por lá?

De repente estou encerrado no presídio da minha mente
A gaiola de um pássaro sem asas da espécie Ego Eu
Contemple cada 2 cm que formam meus 4 cm² de conforto atual
Divido em três paredes e a quarta, você pode vê-la, em forma de barras de ferro
No fim, percebo, essa prisão é subaquática
Minha respiração agonizante se apercebe que escapatória inexiste, hoje, sempre e eternamente
Eu criei minha cela, nela me tranquei e perdi as chaves no mesmo abismo que continuo a cair

Lamúrias do fracasso mandam seus odes, elegias e sonetos de insanidade
Desiluda-se, iluda-se, curvar-se aos dois deuses do dualismo anímico
Bebais meu fluido sanguíneo, vampiro galante e cruel
Com sua capa, tecida em fios de ansiedade, acupuntura a qual só nos traz pontos e cicatrizes
Doloridas recordações tatuadas em nossas faces, fraca-sai

No fim, termina em caixão, complemente "e vela preta"
Vala aberta, seis pés abaixo
Eles me aguardam
Eu cairei
E a pá do coveiro fará meus irmãos, areia, argila e cascalho, caírem logo após a me guiar e cobrir...

A traição, o último pesadelo
Essa é tão sagaz, que por vezes só se revela post-mortem
Quando até mesmo as rosas e crisântemos lançados e que decaíam sobre o sepulcro
Simplesmente desvanecem para sempre junto com recordações, saudades, nada mais, pó e cinza
"Catiti catiti/ Imara Notiá / Notiá Imara / Ipeju"*

Acordei
Mas ainda prossigo com uma sensação que apenas despertei de um pesadelo dentro de outro
Ou vários despertos que se sucederam e me avisam:
Eu ainda posso permanecer caindo...



*"Lua nova, ó Lua Nova! Assoprai em lembranças de mim; eis-me aqui, estou em vossa presença; fazei com que eu tão-somente ocupe seu coração" em tupi-guarani; extraído do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, traduzido por Couto Magalhães.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Atentado Encefálico


Um abalo sísmico racha a existência humana
Eye candy... but not very beautiful
Marilyn Monroe... Leila Diniz... Cindy Crawford... Gisele Bündchen... até cairmos nas Frutas
Nunca a beleza esteve tão a preço de banana... ou menor, já que banana tá bem cara
Tá lá anunciando "mulher-caqui, mulher-sapoti, mulher-quiabo, R$ 1,00 a unidade!"
Delícia... Ai... que delícia!

1/10
Nossa miopia estúpida ainda vai nos cegar e nos fazer morrer de fome, de sede e na mão... de quem?
Exigimos o que não temos ou não queremos ou podemos dar, exigimos perfeição imperfeitamente
E assim nós cruzamos e descruzamos as pernas esperando que vejam nossas vergonhas e cliquem
Registrado a todos a imunda fapfapcataplam que move nossos membros superiores
E que nos hipnotizam, saliva cannabis sativa, ativamente entorpecidos

A história é um rodopio, um pião em torno do mesmo eixo de destruição
Dizem algumas que 99,9,%, não, 100% dos homens são traidores, são iguais e ponto e acabou-se
É muita burrice e falta de noção ou de capacidade dessas de sempre escolher tudo errado
E erroneamente ignorar que tantos de nós desistimos, afinal desistiram de nós antes das decepções
Alguns chamam isso de choro de rejeitadinho, friendzone, forever alone e essas expressões aí afora
Eu chamo isso de uma expressão vulgar, me desculpem de antemão: "saco cheio".

Nossa mania de dar esperanças em causas perdidas, mentiras sinceramente covardes
Medo de decepcionar que leva às piores decepções
Daí fingimos que nada aconteceu, que não sabíamos de nada, inocentemente culpados
Abençoada maldição que premeditamos e ditamos o ABC:
- A.maldiçoada B.osta C.adavérica!
Bocas cegas e dementes na lama, gritando no escuro para todo o sempre

Merdinha romântico. Bostinha sensível. Poeta de mijo... eu
Mas eu creio na voz dela, que me puxa do desespero, o poder da loucura, do amor, doce ave juvenil
A forja da minha alma
Me esquarteja, mas não exponha minha cabeça para os que se assentam no trono da religiosidade
Nem todos os números imaginários fariam o cálculo diferencial para tanta mesmice
Minha sina, carma, espinho na carne, quiçá marca de Caim, carrego a cruz sem saber até quando

Eu sou humano, carne e sangue, pó, barro, alguns diriam "macaco sem pelos"
Eu sou igual a você, mesmo tão diferenciado em tanto e tão pouco
Enganos inerentes, externados, um elogio a sã e coerente loucura contada como história versificada
Vida bandida... adida da embaixada do país de fracassos chamado "nosso coração"
Atrás do espelho há um poltergeist esperando para nos devorar
Ou apenas... (continua... ou não, talvez com uma boa audiência role sequência).

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Máscara Medusa (A Manipulação Emocional)


UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU
Remova minha máscara, jovem
Minha psique irá se alimentar de seu pavor (AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!!!)

Puxarei as cordas do desesperoooooo para coagular seus capilares cerebrais
Farei um brainstorm e suas ideias irão pular abismo adentro
Humano ou meta-humano, até se você se achar mutante, não consegue resistir ao tormento emocional
Seu protoplasma é uma gelatina doce para minha fome saciar

Minha prestidigitação é inaudível e imperceptível para pobres mortais
Claro como a lama dos pântanos de Mato Grosso do Sul
Fracos e pálidos humanos, reles escravos do Desejo e viajantes do Delírium
Mas a minha persuasão é tocante, impulsiva, eficaz, quase um romance:
Farei cada pedaço de seus neurônios retorcerem-se como serpentes sem cabeça no pó da terra!

"Tudo que é mesquinho, egoísta e maligno está logo abaixo da superfície humana"
E assim o caossssssssssssibila como cascavel chocalhando sua peçonha no calcanhar humano
A ânsia pela aaaaaaaaaaaaadoração... aaaaaaaaadmiração, ignoram a DOOOOOOOORRRR alheia

Pseudo-fé, pseudo-crenças, dominam os oportunistas
A galeria da blasfêmia continua a se multiplicar em quadros e imagens de impuros
Perfurando como coroa de espinhos o sagrado coração da fé
E é assim que eu em pedra transformo todas as emoções, ídolos paralisados na minha parede

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Apparet ingenium mors


Distanásia em mim
Eu tento tolamente fingir que não morri
Mas minha morte cerebral não é apenas aparente, é diagnosticada e comprovada
Vegetar sem clorofila é morrer um pouco a cada dia a mais

Como as pessoas normais vivem?
Eu tentei ser uma delas... mas fracassei
Pois quando se é normal, em que se apoiar quando o anormal surge feito tsunami
E arrasta toda nossa normalidade ao ralo da insanidade?

"Não sou especial. Não sou puro. Sou lama e chama."
A magnum opus de um alquimista maluco, um rebis do bem e do mal
Eu preciso de aprender a rastejar dos escombros que meu castelo de areia virou
Veja os cadáveres dos meus sonhos, amigos imaginários e fantasias apodrecendo no necrotério

O Capitão Folha secou e queimou-se pelo sol ardente de Rio Doce
O Super-João, igual quando virou supervisor, foi superado pela superstição do capitalismo selvagem
UltraJohnnÿ, ah, tolo, risadas dou, as traças o devoraram num papel-machê amassado
E o que dizer do fim do J.D. e suas cartas de amor que amorosamente se rasgaram em confetes?

Meus personagens, personalidades, personas, pessoas, peças de mim
Todos viraram pó na explosão da última estrela em nebulosa na constelação das minhas sinapses
Apaga-se a luz, desliga-se o Bibap, os cateteres param de emitir suas soluções intravenosas
O monitor traça uma linha contínua fatal, o canto fúnebre de um bip interminável

.
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Quando silenciarei?
Quando se lenços darei para enxugar a lágrima derradeira das infantes ilusões?
Quando um poema pode ser uma EQM* (Experiência de Quase Morte pros leigos)*
E os sábios desse mundo se chocarão quando o último suspiro decidir ser adiado por mim mesmo

domingo, 10 de abril de 2016

Criogenia da Alma


273° C negativos
0 K
O zero absoluto
Onde eu poderia descongelar?

Me enquadraram em um quadrado com os bois
Aguardando o matadouro dos supostos cerebrais
Minha carne exposta viva como peça
Aqui nessa freezer de açougue religioso

O brilho do olhar se paralisa no meu frio
Vagando como iceberg girando em meu eixo
A primeira lei de Newton é minha prisão
"Todo corpo tende à inércia ou ao movimento circular uniforme"

Sorrisos falsos presos numa fotografia
E alguns verdadeiros que jamais serão por minha causa
(Ou talvez sim, para me zombarem)
Meu caixão congelado nesse Everest isolado de todos

Romper as geleiras é algo que só o sol poderá fazer
Eu preciso dessa luz para me libertar de mim e de todos
Pois não desejo perecer aprisionado nessa altitude
Como uma múmia exposto a todos que conseguirem chegar ao topo e eu para sempre lá derrotado

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Liga da Selva Excluída


Bem-vindo(a) à nossa liga
Eu sou o gato preto, aquele mesmo que teve o azar de cruzar com você
Ao menos não tive o azar da finada galinha preta
que algum orixá jantou semana passada

Aqui nós, os chamados refugos da natureza dos homens tolos, habitamos
Exceto o cisne, que só aparece por aqui em dois momentos:
quando criança, enjeitado como patinho feio, tal qual a ovelha negra da família tb passa dia a dia;
ou quando alguém porventura decide dar o seu canto antes de expirar

(Dizem que ele também vem por aqui as vezes de luto e como dançarino... não temos toda a certeza)

O corvo e a gralha negra, um casal feliz e tão macabro
Sofreram ao assistir séculos atrás a stigmata martir ante eles
E desejaram devorar os olhos daquele Gestas, desumano desonroso ladrão inclemente e irreverente

A poesia para os poetas... e a salada pra quem ganha dinheiro
Mas no final os urubus irão devorar a todos
Eles, junto com seus primos abutres e condores, apenas aguardam
o piar da coruja anunciando o velório na semana que vem
Ou será a mariposa-caveira que passeou no teto de sua casa?

A naja desencantou nosso dia depois de picar o seu encantador
A dor não se comparou ao veneno e a peçonha que o fará serpentear no chão pedindo ar
Na mesma situação dos esposos da viúva-negra
que agora pedem apenas que ela os devore
Sim, pobre esposo que louva-a-deus, mas sua esposa pagã prefere degustar a cabeça dele

Tarantela, tarântula, dança para expurgar o suco venenoso que a vida nos derramou
Estão a cada dia cacarejando bobagens e achando que podemos aguentar calados
Parecemos o irmão morcego, vendo esse mundo de ponta-cabeça
Talvez ele seja o único que vê o mundo como deveria ser, ou como queríamos
O uivar do lobo anuncia que podemos começar nosso ritual
O de se preparar para persistir em causar a celeuma no cérebro dos eternos incompreensívos


(Parece uma descrição de poetas, contistas, romancistas e outros tantos incompreendidos
na vida, na arte, até na esquina... mas é a nossa luta de cada dia na nossa selva de pedra...
... ou na selva de verdade, quiçá...)

quarta-feira, 6 de abril de 2016

O Voo da Question Mark


Bata suas asas e assassine alguém a quilômetros daqui
O silêncio pode ser a canção mais verdadeira de nosso hinário
Alguns me têm por poeta, mas poetas são um bando de fingidores baratos
Eu não sou poeta, eu sou um narrador da minha novela da vida real
Se tu for, me leva, num sei pra onde, mas leva aí

Eu sinto as picadas das muriçocas
Eu sinto o bater de asas das borboletas nas florestas da Noruega
Eu sinto um salgar na língua, deve ser o mar de sangue que me encobre

Eu não sei o que sinto

Por que existe algo ao invés de nada?
Acho aliás que o nada já é algo, mesmo que nada seja
Eu sou nada ante o tudo ao meu redor

Na verdade, isso não é um poema
Nem essas palavras que escrevi são palavras enfim
Talvez sejam lágrimas perdidas no oceano e nada mais
Onde há fé alguns levam a dúvida
As certezas são mais complicadas de construir, cansam mais, doem, não estamos dispostos
Batamos nossas asas, vamos fazer nossos ciclones rodopiarem nos cérebros alheios

Eu prevejo uma folha caindo no pé de coração-de-nego à frente de minha casa nesse instante
Eu prevejo um percevejo que a pouco eu vejo zumbir e picar dentro do varejo em Natal
Eu prevejo uma carta de tarot não dizer nada a ninguém na tenda cigana em Búzios
Eu prevejo um castelo de areia de sonhos vazios desabando em Brasília, ou em sua mente
Eu prevejo a cegueira desabando em meu olhar e em meu sentir e pensar

Eu devo estar com catarata

Desabem, dominós...
Deus não jogou dados, mas nós continuamos a dobrar as apostas ao contrário
Até quando negar a holística da onipresença
que num sopro pode derrubar mil de um lado, dez mil à direita?
Coincidências são percepções míopes de nosso determinismo infalivelmente insipiente
Decolam para novos jardins para polinizar, lá no Egito as locustas dizimam as hortas

Tirei meu estoque de velharias que estoquei na mente em vão
As minhas asas bateram, o que virá lá adiante?
Que hajam flores para polinizar e sorver seu néctar
Ou a turbulência de meu ruflar poderá todo o sistema desabar

d(f^\tau(x), f^\tau(y)) > \delta \,.

Question Mark Buttefly, uma das mais raras borboletas do mundo,
bastante curiosa pelo formado de interrogação de suas asas,
tornando-a um enigma flutuante... o som de suas asas... o tufão em suas asas...

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Pensamentos de uma Cabeça Empalhada


Eu ouço os disparos e as comemorações dos carniceiros
(Aleluias)
Eu vejo as armas usadas para me abater na savana
(Faça ou fora!)
Eu cheiro aquela pólvora ainda queimando minha ex-pele
(Seu herege!)
Eu degusto meu sangue garganta afora expele

Bobagens no submundo do purgatório são cantadas nesse quarto
Aonde eu habito ao lado e entre outros pobres derrotados na batalha
Empalhados estamos e em vão apenas fixamos o olhar para nada
O Rei da Selva chegou em casa, com sua xícara de café amargo e sem açúcar
E os religiosos prepararam sua mesa com orações e rezas encomendadas
Para esse deus pequeno que eles chamam de Deus sem nem conhecer o Verdadeiro
Enfiem-no numa caixinha de música e num livrinho de regras
Ou come o que tem no menu do cardápio do restaurante institucional ou rua!

Pessoas procurando sinais do fim dos tempos
Enquanto deixam as outras se acabarem sós
O inferno é fogo, e alguns gostam de como pirofágicos com ele brincar
Não se esqueça de se esquecer de me convidar pra esse festival de lama
Prefiro descansar o que me resta de minha cabeça por aqui mesmo na parede que me penduraram
A ver se perco da recordação os torturadores do texto, contexto sob pretexto de lixo
Eles ainda estarão lá, com suas videocassetadas, ou radiocassetadas ou outras aos tolos sentados
Aprisionados em sua caçada de bruxas, demônios e do ouro no fim do arco-íris cinzento
Dogmas são o que importa, não sua opinião, ainda que seja uma dogmatização em vão
e sem nenhuma lógica ou motivo justo e concreto e certo
Só e somente só "meu modo de acreditar" e só

Agora (uaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhh) irei dormir
Boa noite, amém, fiquem na paz
(ou não, se não quiserem)

domingo, 3 de abril de 2016

Multi-Versos


Terra-Um:

Eu sou um poeta, apaixonado pela poesia e por quem também é apaixonado por ela
Assim me defino, assim eu desejo e me desejo
Quem deseja isso, eu também desejarei que desejes
Quem sabe me desejes também, ou desejes meu desejo de te desejar

Terra-Dois

Fazendo uma anagnórise de minha vida, eu sei que desejei a poesia, desejei você também
Mas o tempo passa, e nossos desejos cada dia mais se vão tal como vem
Você fica com suas 6 décadas de vida e percebe que a sua juventude foi muito iludida

Terra-Três

Poesia é odioso
Nunca iria perder tempo desejando ninguém, todos são um bando de imbecis e idiotas
Não merecem sequer meu ódio

Terra-Zero

Mim não ser poeta. Mim não gostar de poetizar ou quem gostar
Eu não digo quem sou nem desejo nada
Oi

Terra-Quatro

Se vossa senhoria não tendes o atino
Escuses a este trovador, tão cretino
o qual eis se dissolve em literaturas
e anseia tu deleitar em tais conjecturas

Terra-Cinco

(Terra destruída durante a última crise depressiva com um corte de gilete profundo na jugular)

Terra-Seis

O diabo está a solta e todos sabem disso, mas continuam fazendo fila para lhe pagar sua felação
Esses versos malditos que saem de nós são frutos dessa imbecil corrida rumo à obliteração
O número da besta está marcado em todos, não há salvação para nossa corrida maluca
Esse aí que foi o seu desejo, seu filho da...

Terra-Sete

Oi?

Terra-Oito (Eight)

I don't know what I doing here
My poems? I hate poems!

Terra-Nove

Eu não acredito a muito em paixão
Poesias são para os que ainda se iludem

Terra-X

Poetica illusio
Ut quisque novit,
Nos sunt mendacium,
Aequalis politica,
S.P.Q.R.


Terra-11

1010101110101010 10101010100
101010000011
1101111000

Terra-12

Homens se acham sem capacidade poética
São na verdade frouxos que jamais entenderão como nós mulheres somos geniais
Por isso necessitam tanto de nossa métrica
Nossa capacidade de versificar e intensificar o que não tinha nenhuma vida mais

Terra-24

É tão duro esses machistas estúpidos e grosseiros que não sabem respeitar os sentimentos nossos
Somos tão homens como eles, mas tão mulheres quanto aquelas que não desejamos

Terra-20 cm

Gugu dada bla bla bla

Terra-69

Deliciosa 
Gostosa
Que poesia o que, eu te quero inteira

Terra-99999999999

Computadores fazem arte... humanos fazem digitação

Terra-89 FM

"No more Mr. Nice Guy, No more Mr. Clean"

Terra-33 RPM

"Bzzzttttt"
O disco arranhou no meio do eu te a...

eu te a...
eu te a...
eu te a...
eu te a...

Terra-Terra

A poesia é uma forma de expressão
Os versos são suas divisões de frases
e as estrofes, dos parágrafos
As vezes têm rima, noutras como essa, não precisa
As vezes têm métrica, noutras como essa, é inútil
As vezes têm lógica, noutras como essa, o que é isso?

Terra-B


ale rop odanoxiapa é mébmat meuq rop e aiseop alep odanoxiapa ,ateop mu uos uE
ojesed em e ojesed ue missa ,onifed em missA
sejesed euq ierajesed mébmat ue ,ossi ajesed meuQ 
rajesed et ed ojesed uem sejesed uo ,mébmat sejesed em ebas meuQ

Terra-300 kg

A POESIA É FAMINTA
DESEJA TE DEVORAR
POIS DE TÃO LARGA
NÃO SABE MAIS PARAR

Terra-150 X 10 mmHg

ESTOU EXTREMAMENTE CANSADO DE QUE ME ENCHAM O SACO
PRECISO DE REMÉDIOS URGENTE, UM RIVOTRIL OU DIAZEPAM JÁ TÁ DE BOM TAMANHO!

ɐsɹǝʌuı-ɐɹɹǝʇ

ǝɹdɯǝs oʇıǝɾ ǝssǝp ɹɐʇsǝ opnʇ ǝp opɐsuɐɔ noʇsǝ nǝ
oʇuǝɯoɯ ou ɯɐɹʇsnןı ǝɯ sosɹǝʌ snǝɯ

Terra-Perdida

(Não conseguimos localizar nenhum registro poético dela, desculpem-nos).
  
Captação de registros de outras dimensões recebidas
com o auxílio de um captador de transmissões de outros universos
chamado caipirinha com Pitú

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Sorriso da Máscara



Boas novas, que dia belo de sol radiante esse
Todos estão felizes hoje, tem muito pão e vinho
Todos têm o que comer e seu salário é justo
Afinal estamos todos trabalhando felizes

Ninguém precisa escrever poemas tristes
Nem músicas de protesto ou sair às ruas
Está tudo igual passa nas propagandas
Dos partidos que estão no poder atualmente
O estado mais feliz do planeta Terra

Quanto a mim, estou absurdamente bem
Sem nenhum trauma infantil nem bullyings
Sei que posso escolher a dedo quem namorar
Pois as opções são muitas, diversas me querem
E estou com um salário maravilhoso no emprego dos sonhos
Famoso e sapiente que meus poemas valem ouro
E pedras preciosas fazem parte dos meus adereços
Confesse, tu que me lês, até você tem fortes atrações por mim
Minhas estrofes deslizam na mente como os sonetos de Vinícius
Corações podem disparar sem medo, é tudo verdade, eu sei...

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1º de Abril