Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

sábado, 27 de maio de 2017

Vinte e Nove (os meus, não os do Renato Russo)

Aos vinte e nove com o retorno do Sol da Justiça e não reles planeta que nunca me amou ou deu luz
Estou tentando começar a viver, ou lutando pra que a vida me dê um beijo colado infinito

O caos ao meu redor e ao teu, eu sei bem, tá um saco, sem vinte e nove amizades, nem uma sequer
Mas um bem cheio, lotado, de lixo, praga, dengue e todos os mascotes do passado imbecil nosso
E esses do presente parecem-me ainda piores e dignos de pena

Queria que vinte e nove anjos me saudassem
Nos meus vinte e nove anos de saudades
Saudades do que nunca tive e sepá jamais terei de novo ou algum dia quem sabe
Saudade de lembrar do tempo em que eu achava que alguém iria rapidamente me amar

Ser poeta em vinte e nove versos
É um trabalho dos infernos
Mas pior é olhar pra esse olhar teu tão longe de mim
Só perto pelas telas virtuais das paredes da separação
a tela do meu monitor, ou do meu celular, sabe lá

Lá fora clamam por paz
E a paz deles são como bolhas de sabão
Explodem ao menor contato
Igual ao amor e à alegria tão passageira destes
Baseada em, baseados em, mentes que se acham livres com correias e algemas viciantes as prendendo

E eu só queria ser preso ao teu corpo, mulher que não conheço de verdade
e do jeito que minha vida anda serão eternas vinte e nove mil léguas submarinas inatingíveis
que irei naufragar e lamentar por quem sabe mais vinte e nove anos a fio
Ou os próximos vinte e nove sejam os nossos
58 é um número tão grandão, as rugas chegarão, se nos aposentarão aí eu duvido de montão

No 28 de maio do ano 2017
Vinte e nove desejos virariam talvez um mísero:
Que Deus tenha piedade dessa alma tola e solitária sem opção
e a faça ter algum dia uma companhia que ele também saiba acompanhar até o fim

Ou até que vinte e nove anjos venham carregar seu espírito frágil para os braços do Seu Divino Amor

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Chuva de Outono à Noitinha

Ah poeta
Tão chorão e sem inspiração, tédio
deve dar nos outros ler tuas lágrimas e declamar tuas remelas
Mela cueca demais esse teu papo romantiquê antiquadê

O Brasil pegando fogo presidente usurpador pedindo socorro de medinho pro exército de mansinho
enquanto o povo taca tiro soco porrada e bomba (e graças a Deus não é o funk carioca de quinta aqui)
E você aí, poeta, a lamentar a falta de um papo legal e firme?
- É que Brasília que se exploda, eu quereria somente amor e amar e ser amado e o resto pegue fogo!

Eu lamento poeta que você queira tanto algo que ninguém faz a menor questão de te dar jamais
Ou isso ou tão mais preocupados em se tu parasse de poetizar e passasse a defecar dinheiro, sei lá
ou ao menos ajeitasse essa tua cara de roqueiro babacão
"Você parece um adolescente trouxão pagando de bonzão!"

"Você é duro, José"
E agora... poeta, e agora? - Eu insisto, eu não morro, morra sozinho você, alterego da miséria tola
Pessimismo disfarçado de realismo é coisa de cretino
Só quero saber que no fim, nem que seja no último suspiro, eu venci, eu amei, me amaram forever

sábado, 20 de maio de 2017

Camará


Seu Camará tão longe
Camarada Camaragibe em que cantarolei o caos
Guturais sequências do desespero humano, desinfernalizando tudo ao redor

O mundo que separa eu de lá
Nem o rasgo dos metrôs é suficiente pra diminuir a longitude
(nem) pra me dizer como e quão louca aventura foi tocar um som por lá

Mas num nego eu que queria que alguém pra lá voltasse
Viver lá tão longe, mas tão mais perto d'eu
Uma beleza sublime que bem queria eu conhecer melhor

Direi-te algo, te dizer vou
Sei que pode ser quiçá tolo, talvez pra ti banal
Mas é que teu olhar oriental
                               me
                                      des
                            ori
                                        ent
                                ou


Poema escrito entre 17 e 18 de maio de 2017 para o projeto "A-Recife - Poesia Metropolitana do Recife".

terça-feira, 2 de maio de 2017

Snuff Poem


Sorrisos dos outros é uma delícia mas inveja demais os tolos bananas neurônios de meu eu ué
- Bravo!
Inocentes inúteis levados pro matadouro brasiliense

Morticínio dos doces amorecos secretos doudos
quem mais vê o diabo nos lugares é porque o deseja
confunda-me

A morte tem nome luxurioso me beijando e possuindo testosteronamente
Momentos perdidos no ar ar ar
Mondo cane, poema mondo

Prepare minhas entranhas pra o próximo burro de carga expedir até o rio Styx
Como touros bêbados em Pamplona procurando traseiros para despejar a fúria cornuda
das tribos canibais primitivas revolvendo e ruminando traços da morte de meu ego

Os zilhões de dias em Sodoma
Professam lados canhotos ou supostamente destros, imprestáveis corruptos merecem morrer
Todos nós no fim, à tout le monde, um poema que derrama da pena o sangue fatal do poeta

Morte é desejo de quem não sabe viver ou não sabe como viver ou conviver com a vida porca
Vá lá Deus abra a porta invés do caixão ou do crematório dos sonhos no enterro do Morpheus

"Flores colhidas pela manhã à tarde desabrocham, estão murchas ao anoitecer
Você pode ser eu quando eu me for"

(Citação à Sandman Vol. 2 Nº 69 por Neil Gaiman. Homenagens aos filmes "Mondo Cane", "Salò" e às lendas de filmes Snuff Movies, e à música "À Tout Le Monde" do Megadeth)