Bata suas asas e assassine alguém a quilômetros daqui
O silêncio pode ser a canção mais verdadeira de nosso hinário
Alguns me têm por poeta, mas poetas são um bando de fingidores baratos
Eu não sou poeta, eu sou um narrador da minha novela da vida real
Se tu for, me leva, num sei pra onde, mas leva aí
Eu sinto as picadas das muriçocas
Eu sinto o bater de asas das borboletas nas florestas da Noruega
Eu sinto um salgar na língua, deve ser o mar de sangue que me encobre
Eu não sei o que sinto
Por que existe algo ao invés de nada?
Acho aliás que o nada já é algo, mesmo que nada seja
Eu sou nada ante o tudo ao meu redor
Na verdade, isso não é um poema
Nem essas palavras que escrevi são palavras enfim
Talvez sejam lágrimas perdidas no oceano e nada mais
Onde há fé alguns levam a dúvida
As certezas são mais complicadas de construir, cansam mais, doem, não estamos dispostos
Batamos nossas asas, vamos fazer nossos ciclones rodopiarem nos cérebros alheios
Eu prevejo uma folha caindo no pé de coração-de-nego à frente de minha casa nesse instante
Eu prevejo um percevejo que a pouco eu vejo zumbir e picar dentro do varejo em Natal
Eu prevejo uma carta de tarot não dizer nada a ninguém na tenda cigana em Búzios
Eu prevejo um castelo de areia de sonhos vazios desabando em Brasília, ou em sua mente
Eu prevejo a cegueira desabando em meu olhar e em meu sentir e pensar
Eu devo estar com catarata
Desabem, dominós...
Deus não jogou dados, mas nós continuamos a dobrar as apostas ao contrário
Até quando negar a holística da onipresença
que num sopro pode derrubar mil de um lado, dez mil à direita?
Coincidências são percepções míopes de nosso determinismo infalivelmente insipiente
Decolam para novos jardins para polinizar, lá no Egito as locustas dizimam as hortas
Tirei meu estoque de velharias que estoquei na mente em vão
As minhas asas bateram, o que virá lá adiante?
Que hajam flores para polinizar e sorver seu néctar
Ou a turbulência de meu ruflar poderá todo o sistema desabar

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