Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

sábado, 25 de maio de 2019

In(certo) Temor

Se os meus olhos fecham
Parece uma porta, mais uma das zilhões em meu caminho
Que fecharam na minha frente

Algumas pessoas têm a coragem de admitir o fracasso que são
Outras fracassam em dizer que não
Eu cansei de seguir a segunda opção em vão

Preciso de um isolamento acústico urgente
Onde só Deus ouça minha voz
Acredito eu que no fim só seus ouvidos realmente me ouvem

Desgoverno bizarro obrigo-me a conviver
Rir da autodesgraça pra não derreter como vela em chororô
Unidos nos restos do lamaçal de tragédias sonhadas dias atrás que viraram séculos perdidos

Pontos de autoridades desautorizadas pelo caos sistêmico
A anarquia sempre triunfa de um jeito ou de outro
E louco e tolo é quem espera fugir do inevitável

Em meu desolado jardim de sons da morte
Tudo tão ultramega OK, alto como um amor
Amor pelo dedo-motorizado-do-mal
"Satanoscilatemymetallicsonatas"
O superdesconhecido desce lá do mais alto
E faz o rei dos animais eu voltar-me ao estado fossilizado

Morte desolada, nada mais
A saudade do gosto de vitória
Ainda que o amargor da ferrugem se esprema nos dentes logo a seguir

Aquela esperança de que o blues vire hardcore
Se derrama em um doom metal catastrófico
E aquela certeza que as lágrimas na chuva poderão ainda ser percebidas e distinguidas

Mas uma certeza no fim pisca mais que sirene de polícia
Em meio aos tiroteios insanos na favela da MacLaren
"Ele me fará justiça"

Sei que o amor de quem se importa por mim
Será capaz de vencer minhas mazelas e fracassos diários
A certeza de que existe saída até nos becos mais escuros

Um dia meus versos dolorosos
Cicatrizarão, eu bem sei
E meus cravos virarão marcas de uma vitória maior do que o mundo inteiro

sábado, 18 de maio de 2019

Passinho em Falso

"Estou a dois passos do precipício!"

Um dia Deus te alerta, noutro dia você vira a seta para a contramão
Depois não reclamar quando tiver sem pra pagar do conserto a prestação
Nossa endêmica teimosia está sempre em dia pra nos levar pro atraso
Nunca enferruja desde o Éden nossa concupiscência de ir além do que traz aprazo
Satanás não é tolo, sabe bem oferecer o bolo que infecciona-nos mortalmente
Nas entranhas do homem reside o verme que devora o bem e também consome-nos a mente
As cordas do violão partem-se num senão que não tem nenhum refrão
A vã e humana riqueza nos preenche de miséria e pobreza, não importa o tamanho do cifrão
O nosso flautista de Hamelin já está muito a fim de carregar-nos ao esgoto
Sem Deus em nós, nossos sonhos perdem toda a voz, serão somente o passado de um aborto
Será que a dona Esperança, aquela que nos acalentou quando crianças, ainda mora por cá?
Ou só restará o batidão de um passinho em falso no vão que joga a humanidade pro inferno lá?

- Vizinho, por favor, baixa a porcaria do teu rádio, infeliz! Vai ouvir tua merda sozinho, vai!