Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Ouro de Tolo (Essência de Putrefação)

Não valho nada
Alguns diriam "não 'valo' nada"
e assim jogam numa vala
O seu ser sem valor e o valoroso português
Valentemente prevalece em mim
A certeza da minha desvalorização eterna e sem vale-alimentação, transporte ou outro qualquer

O poeta não escreve versos - ele os chora
cada lágrima, há um rio de desesperança
Para cada dia de vergonha, dupla desonra
Ele percebe em si mesmo sua inexistência de quilates
Um outro pedaço de pirita, mais um bocado de ouro de tolo
Outro dia frio no inferno, até o diabo vai querer um pouco de calor depois disso tudo

O silêncio mortal, o ignorar do meu falar em teus ouvidos
O gosto do sangue saindo da minha garganta num tossir
O veneno dos lábios, o perfume da carniça de uma raflésia
"Quem sabe"... e ninguém acaba por saber jamais
Terminamos essa conversa sempre no desconhecimento
O desinteresse de conhecer um ao outro, talvez esteja mesmo eu em estado de putrefação

Meu mal - ou bem, vai saber lá
é insistir até nos cadáveres sobre o amor
Pessoas que estão mortas e enterradas em seu auto desprezo
resistem em um egoísmo que as aprisiona em bolhas de auto comiseração
Mas eu prefiro insistir no meu masoquismo de me cortar nesse pé de rosas espinhentas
Até que a morte nos arranque a última esperança, eu só sairei daqui com um perfume eterno em mim

Esses versos... controversos, reversos, perversos, transversos, perplexos
Dançarão no meu sepulcro, rindo, bebendo e se divertindo de meu desalento completo
ou talvez eu me una a eles na cantoria das almas penadas sem amor
Será que meu conto de fadas é daqueles originais, macabros,
ou já botaram aquela fantasia fofa nele?
De toda forma o final sempre vai ser infeliz, no meu sarcófago dormirei pra sempre, sem ressurreição

Agora encerrarei essa vida de seis estrofes de seis versos, seis vezes, 666
A besta eu não sei, o besta sou eu mesmo
Não desejo saber realmente se há esperança num mundo que resolvemos tudo na crassa violência
Meus pulsos derramam os últimos fiapos de minha existência despedaçada
Não creio realmente que me salvarão a tempo
Pois o único remédio para desamor é o que nenhuma indústria farmacêutica sabe fabricar... o amor

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