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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Progresso dos Regressos

O progresso... ah, o progresso... esse filho do demônio travestido de gênio da ciência. Nos tornando escravos do relógio, do smartphone, da smart TV e de outras coisas que de tão smarts tão tornando todos nós um bando de burros.

Arrancou da gente a simplicidade, a ida na casa dos amigos pra ouvir aquele CD ou vinil que só ele tinha e passar a tarde ouvindo juntos o novo lançamento do Metallica e xingar os rumos que a banda tava tomando enquanto tomávamos uma caixinha de achocolatado e logo mais soprar um cartucho que tinhamos alugado na sexta pra jogar o fim de semana todo ou mesmo passear na praia ou assistir um filme lá da locadora.

Isso era tão bom. Igual comer pão com mortadela feito pela mãe do seu vizinho, pão quentinho daqueles que a manteiga derrete todinha.

Nesses tempos até namorar era uma coisa de sonho. Andar pela orla de Olinda com a mão agarradinha vendo o quebra-mar guerrear contra as ondas, enquanto o sol vinha como guerreiro forte, ou quando, vencido pelo cansaço, deixava que a dona lua, em suas várias faces, viesse curar suas feridas para o dia seguinte. Tudo isso tomando uma água de coco gelada e comendo peixe-agulha ou saramounete vermelhinho.

Tudo isso foi bom.

Quem viveu esses tempos se pergunta como esse tal de progresso conseguiu extinguir tudo isso?

Ele chegou de mansinho, mas depois que chegou, nos tornou prisioneiros do headphone e da solidão auditiva aguda, e nos fez virar críticos de redes sociais, que falam muito e fazem absolutamente porcaria alguma. Nos fez viciados em pizza gelada com cerveja quente, jogar sozinhos pra não perder o desempenho no jogo com a conversa fiada de amigos, nos fez passear em sites pornográficos e comunidades de internet que só servem pra xingar Deus, o diabo e o mundo todo. Nos fez odiar o vizinho e seu som imbecil, além de suas festas de fim de semana. Nos fez escolher esperar, não para namorar, aproveitar o tempo na beira-mar, mas ver se descola algum nude de uma menina sacana, ou muito tola, e depois espalhar pros amigos como conquista cara, ainda que valha tão pouco desbravar um corpo apenas para humilhação alheia invés de união eterna.

Eternidade é muito tempo demais da conta pra turma do download, do Whatsapp, do MP3, do XBOX Live, da Netflix, do "ficar" com todo mundo, dos memes de hoje (porque os de ontem já se foram e já são passado. Aliás, melhor dizendo, "pq"), da banda larga, e em alguns casos, da bunda larga também, de tanto que ela virou prisioneira da cadeira de um PC.

Eternidade cansa. Mas eu tenho saudades dela. Pena que eu estou em extinção, igual a ela. Alguém aí mais quereria andar do meu lado pra sempre? Duvido... Eternidade é chata. E eu devo ser também...

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