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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

De quando mataram o general (ou o Dom Quixote dos dias atuais)


Nas batalhas dessa vida fui general
Condecorado, jovem guerreiro
Mas percebo, postumamente
Que todas as guerras que eu ganhei
Foram simples ilusão de minh'alma

Sonhei com vitórias nos campos fabulosos
Derrotei exércitos inteiros
Transpassei todas as montanhas e vales
Ninguém deteve minha forte mão
Dragões e monstros caíram por terra
E pude ver minha doce Dulcinéia ao meu lado enfim

Acordei e vi que nunca consegui transpassar nada
Derrotas e mais derrotas foi o que conquistei
Todas as Dulcinéias que amei me desprezaram
Uma após a outra viraram aqueles monstros que eu combati

Umas me prometeram o céu, meu bem, e o seu amor também
Mas no inferno me jogaram ao prometer a si mesmas a outros
Umas preferiram cuspir na minha face
Como se um lixo tóxico ou um nada fosse eu
Umas ignoraram minha luta por elas
E me machucaram com seus punhais de desprezo
E umas me colocaram para caminhar em círculos
Me tornando escravos de suas fantasias malditas

Fui engolido pelo desamor de seus braços
Pelo escarro dessa boca que um dia me beijou
E pelas pedras das mãos que afaguei outrora

E agora aqui estou eu, o general morto
Chamado Coração
Virando pó, virando cinzas, virando pedra, virando nada
Como nada a todas Dulcinéias esse Dom Quixote tolo foi

Mas eu ainda acredito que haverá o dia
Em que esse coração ressurgirá
Num paraíso distante, numa terra de serras e delícias
Aonde o queijo e o leite saem das encostas
E minha índia daquela tribo que eu me perdi
Há de eu a encontrar e em sua tenda habitar

Eu sei que há... posso estar morrendo, mas sei que há!

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