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terça-feira, 29 de março de 2016

Guerra Florida


O Relógio do Juízo Final marca um minuto para o fim do mundo aqui no jardim
Nem a coleção de hippies do flower power convenceram-nos de abaixar as armas
Nossos euzinhos ainda estão mais afiados que os espinhos da rosa de Saron

Para a tristeza e decanto de todos os liliuns, os lírios dos vales viraram palha seca
Os cravos vermelhos foram pra revolução, mas ninguém os perguntou se queriam
Azaleias e Camélias pisoteadas pelas sandálias que roubaram seus nomes
Crisântemos pranteiam as margaridas e violetas que se perderam no caminho

A raflésia com sua grandiosidade é o perfume da morte de todos nós
O cheiro que nem as pétalas alucinógenas da papoula conseguiram apagar da mente
O néctar dos jasmins e das tulipas como dentes-de-leão foram morder o vento e se apagaram
No relógio florido não há mais rosa-dos-ventos que dê direção, sentido ou tempo
Todas as dimensões do girassol se apagaram como eclipse
Todas as variações de nossa simetria floral, seja de dália, orquídea ou cana-da-índia, assimetrizaram
Viramos fractais aleatórios na nossa guerra para sermos escolhidas e colhidas

Tal como colhem nossas irmãs gimnospermas, aquelas que chamam de frutos ninguém sabe porque
Pinhas, graviolas, frutas-do-conde, e outros tantos pseudofrutos
Invés de perfumarem, são alimento dos homens
Algumas de nós também, mas quem comeria uma flor-cadáver?




A flor de lótus é a viagem de alguns seres para dimensões pouco conhecidas
Já na vitória-régia os mitos nela ainda navegam pelo grande rio
Que inveja delas, pois nesse jardim presas estamos
Ou nessa estufa
Ou nessa floricultura
Ou num vaso, até que a morte nos recolha e encolha em sequidão
Na verdade as flores são o povo humano que secam sobre a terra

A flor-de-lis toca as trombetas da guerra florida
E logo as coroas de flores abundarão nesse chão, junto a caixões
As hortências e íris azularão nosso fim

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