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quarta-feira, 23 de março de 2016

Poema Obnubilado


Todo deleite é passível de virar delírio
Eu sei bem
E como

Talvez recordar sabe-se lá como do criar da Terra do seu nada, de seu pó estrelar
Seja apenas um retorno mental de nosso status original, o pó terrestrial
O arrependimento não mata, ao menos não tão rapidamente quanto imaginamos
"No dia em que deste fruto da consciência degustares, a morte será certa"
Ainda que em modo, formato, motivo e tempos incertos, ela sempre nos levará de volta ao pó

Certos licores são invencíveis depois que provamos seu sabor proibido
Insaciáveis, incessantes
O Ankh ainda me dá a visão nesse deserto copta para renascer meu vigor nas águas do rio do Senhor
Vidas humanas inocentes parece-me um oximoro, um paradoxo insolúvel
Nesse reino de heróis esquecidos, o que nos resta na poeira de uma nota de rodapé das biografias
É crer que certamente fizemos a diferença para alguém,
e salvar a nós mesmos dos dissabores do cálice pecaminoso, venenoso, de ira e morte

O mar do esquecimento é tão sujo que pular nele nos traz lembranças de nossas excretas perversas
Lá como cá os cães ladram, mordem e não deixam ninguém dormir
A carne no prato de Calígula parece-me repulsivamente apetitosa
O perfume da carniça pecaminosa deita-se em minhas narinas, sufocando-me
Morri e esqueci-me de pedir socorro a alguém que pudesse ainda me amar

Não inventaram palavra para quando você esquece de como é se apaixonar por alguém de quem você gostava muito tempo atrás
A tenhamos por "desapaixonalizado"
Sei que não vai colar para ninguém, sou um poema, sei bem
Eu descrevo momentos confusos da mente difusa de um autor em parafuso

Falcon é só plástico ante Tito e seu machado da morte e a voz dissonante de Flappy em minha mente
Se você nunca ouviu falar, permaneça inaudito toda essa sandice
Vidas breves aos deuses que a muito morreram nos nossos sonhos perdidos
Quem imagina o que o delírio vê em seus olhos desiguais?
A antimatéria consome lentamente todos os sonhos juntamente com meus neurônios
O húmus, juntamente ao meu humor aquoso escorrido em lágrimas, germinou meu anseio

"Hello! Is it me you're looking for?"
My Donna dominou meu cérebro forever e ever ou never
A autodestruição manda lembranças ao cérebro dos viciados na justice by my own hands
Não preciso de nanocontos nem de versiprosas como essa aqui que se autodescreve e escreve-se
Para perceber-me obnubilado pela inexistência no dicionário onírico
Não é o amor que é cego, apenas o destino o é
Ou isso ou aquele outro ente que chamam de amor que também não é nada cego, vê até demais
Ambição, ser maligno, qual momento de comer do fruto da consciência e certamente morrer
Ganância, seu sinônimo, mãe do Pecado, avó da Morte.

K-Pax me chama para viajar até ele de volta
E eu como partícula e onda, feixe de luz arcoirisante voltarei ao meu lar
Deixo esses versos de trevas no mundo das fábulas
Quiçá um banquete com malfeitores hei de participar um dia, se os versos anteriores assim falarem
Ou posteriores... o tempo as vezes é como pó, ninguém sabe se o vento levará pra frente ou pra trás
É na poesia que se consegue o impossível: voltar nos instantes perdidos e até os modificar

Ou é tudo loucura mesmo desse poema tão tresloucado e senil
Tal qual o poeta que o redigiu e voltou ao seu caixão para descansar mais um dia

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