Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

quinta-feira, 24 de março de 2016

Poenimal (pros leigos, Poema Animal)

 
Os porquinhos nos chamam para o passeio até o abatedouro
Toucinhos e bacon de carne humana, miolos e miocárdio suíno
What is disgusting for you, little sick bastard?
Prepare o bredo de seu credo nas tradições pascais, sacais
No nauseabundo pomar de nones, trago uma raflésia para perfumar tudo com a podridão
E o coelhinho da páscoa virará churrasco

Pode limpar meu batom, o seu rebu é da cor do meu desespero atrás do reflexo do espelho quebrado
A teoria do caos é pura teoria e nada mais, não delimita nem infinita meus fractais
Nem minhas fracções de mim, fricções de ventanias estúpidas no meu ouvido interno
Qual o próximo psico-pato que irá grasnar o canto de cisne em sugestão como minha trilha sonora?

A gente devia ouvir mais o que precisamos, mas é um saco... é melhor ouvir só o que tamos a fim
Mas todas as páginas do livro do Destino trazem a esse lugar
Todos os caminhos de seu jardim têm escrito a mesma carta-testamento

Meus balões de fala estão vazios, você não consegue ver isso aí fora do meu quadrinho?

Coordenar a Destruição é um papel inútil, supérfluo e desnecessário
Nós fazemos questão de apertar o botão do self-destruction por nossa conta e risco
Para flutuarmos como corvos e gralhas em sangue, entranhas e penas espalhadas no ar

Não há interlúdios nem pedidos de tempo quando as hienas e os abutres estão a me circundar
Ciceronear

Eu escuto suas risadas e seu anseio para que o agonizante desista duma vez
Meu moedor de carne está à minha espera para encaixotar-me em alguma linguiça ou salsicha
Ou algum outro defumado qualquer
Na criptogeografia das savanas e pradarias inexistentes nas jaulas do circo e do zoológico
Cada macaco no seu galho, ou com seu galho de arruda, ramo de trevo de quatro folhas
Vai saber se vai dar sorte ou serão selecionados pro próximo teste das cobaias decepadas

Viramos ração das galinhas gordas e usuárias de ternos e paletós chiques

Grilos cantarolam a noite adentro a pino e ao relento
Com medo das rãs e sapos estragarem tudo no brejo ao lado com seu coaxar que só Bandeira soube descrever e elucidar
Fiadores de palavras incompreensíveis, tendo a pensar que belas, que nem os papagaios imitariam

O frio da minha pele, lagártica, fugidoura das áspides
O muco pegajoso, tal qual rastros caracólicos em meio aos buracos de minhoca
Nenhuma outra dimensão consegue me tirar da selva do Rei Leão abraçado ao Tarzan
(Ou ao Jim das Selvas, se você gosta de quadrinhos descaradamente plágios... como sou um plágio de mim mesmo de algum tempo atrás, menos animalesco)

Só os cavalos por testemunha... ou os jumentos e mulos, que nunca responderão por si mesmos

Nossa colônia de paramécios continua disputando contra as amebas errantes pelas partículas de sustento
Mas as amebas continuam sugando, bactérias e bacteriófagos disputam o que sobrou do fim do mundo
Até o retroviral e o antibiótico como um dilúvio nos afogar

As fadas da morte, mosquitos e pernilongos, nasce do ovo ofertado um escorpião
E do pescado pedido sai de dentro a naja com sua peçonha preparada
O plâncton é nosso maná no submundo incompreendido pelo Homo Sapiens Sapiens
Único animal que recusa-se a se admitir como tal

Ou talvez não... a gente continua usando aquele velho ditado "filho de peixe é peixinho"
Para persistir em não desejar a alegria de nossos filhotes, mas sim a nossa
Projetando nossa vontade como a deles, nos deificando,
ainda que tolamente continuemos animais rumo ao abatedouro
E não como o Cordeiro Mudo, mas reclamando até nosso cacarejar perder o fôlego e nós a cabeça.

2 comentários:

  1. Teoria do caos e fractais...
    Surpreendeu-me os termos matemáticos, misturados a tantos outros...
    Gramática, biologia, psicologia e etc, etc.
    Parabéns!

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  2. Obrigado a vc, estou sempre tentando expandir meu universo perdido em versos.

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