Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A jornada de Tolueno e Xileno rumo às sinapses humanas

Pintura e arranjo por Clivson David
Enjoo... talvez
Desespero... certamente
O que te leva a abafar a fome com outra fome?
A morte derramada como grudento e viscoso amarelão
Dentro das narinas, das bocas, faringe e traqueia adentro
Cerebral reação de passividade, apagar de dores e emoções

Meu fígado o transforma em ácido benzoico
Tentando expelir sua existência de dentro de mim
Mas você já invadiu o centro de comando
Você é o novo capitão, o novo pai provedor
Me satisfaz mais do que os beijos de uma dama
Para mim que desconheço cama, você me descansa

E também me domina
Me escraviza tão rápido que eu nem me toquei
Eu te coroei como meu rei, tolamente
Em uma hora você faz meu mundo virar de ponta-cabeça
Ilusões, pirações, cosmo-visões virando pó e essência de cola
Eu viro a sola debaixo dos sapatos da sociedade

Quem me vê nunca me vê
Apenas uma sombra, um caco, um resto, um esterco ambulante, dejeto da marginalidade
Um cuspe enlameado e encharcado de microscópicos estreptococos e virulências
Uma pandemia, um perigo público, demônio a solta, pixote, maloqueiro, pivete, entre outros elogios
"Essas pestes, só presta matando!" é uma frase comum pros meus ouvidos
Solta por mães que decerto não criaram filhos, apenas robôs programados para playboys

Na viagem a qual eu fui paralisado
Sem ser convidado, fui talvez intimado, enfiado, suicidado diariamente
Meus medos materializados ou fantasmagóricos, não sei discernir mais nada
Apenas a bolsa da madame ou o smartphone do tolo muleque ao lado
Mais dinheiro adquirido e jogado não para conseguir nem mesmo um mingau de cachorro sequer
Somente mais uma papa gosmenta e com cheiro nauseabundo

Até o dia infeliz, o dia de hoje
Em que... eu não sei dizer ao certo o que
Mas parece que vai eclodir de dentro de minhas tripas - ou seriam elas tentando sair como vômito?
Quando junto com o amarelo escuro da cola vem um vermelho-sangue salgado e amargo
E você se apercebe enfim que aquela garrafa que eu sorvi em nome do vício e do desespero
Foi apenas o meu primeiro dos futuros muitos, eternos, drinks no inferno...

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