Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

quinta-feira, 16 de março de 2017

Jornada Terrível de Eu

(Com enxertos da obra "Animal Man" da DC Comics, escritos por Grant Morrison e Jamie Delano)

Os anos passam
O tempo carrega com ele todos os rastros de sonhos humanos
Não me sobrou muito do meu eu idealizado, apenas os pesadelos do passado

Mas insisto nesse ultrapassado romantismo tão rejeitado
O sonho de resgatar minha família a qual nem constituí ainda
Mas ao contrário d'O Peregrino de Bunyan, estou perdido no caminho e sem minha Christiana

Carne e Sangue, nada mais, a alma virou pó e o espírito deve ter pego asas e voado pro Criador
Não inspiro nada além de piadas, zombarias e até mesmo ódio gratuito?
Talvez umas compaixões, mas isso é insuficiente pra completar uma solidão tão desgraçada

Vejo só por anos isso

Pessoas me procurando somente para

"Me diz o teorema de Pitágoras
Me manda um poema bem legal
Me fala o nome daquela banda lá que você tava ouvindo
Diz pra mim o cheat code de Mortal Kombat 3"

Nunca um desejo sincero e verdadeiro, despretensioso
Ou que pretendesse apenas saber o que diabos é o amor

Decepção é uma palavra que persegue fracos como eu
Mas Deus parece ignorar minhas misérias
Sei que não, mas meus sentimentos são malditos

O abismo da paixão é o mesmo abismo do medo
"A vida é um risco e eu sou o quadro negro"

Como é enganoso o coração
Como eu odeio meus enganos
Mas eles me perseguem, por quê?

Esse meu pé direito troncho e sem cava que vive dando chutes na trave invés do gol
Já sentiu a sensação de achar estar perto da linha de chegada, em primeiro lugar
Mas sempre alguém dá uma rasteira
Ou se surpreender com alguém à sua frente com o prêmio na mão e rindo de você:
"Como você é lento, sr. Coelho?"

As batatas do vencedor estão vencidas
Igual eu cansei de vidas perdidas, as minhas

Morte quer me consumir
Seguindo a solidão, esse câncer, essa leucemia da alma
Metástase que consome meu ser sem deixar uma reles esperança sequer

Alguns verdadeiros companheiros de guerra, amigos
Tentam sinceramente me remover da tragédia, peça terrível
Mas a cortina parece estar tão próxima de cair e encerrar meu ato de maneira fatal

"A morte encerra o tormento todo
Dá fim às voltas intermináveis da roda
Você acolheria a morte como amiga? É o caso?
Mas a morte não tem interesse na sua amizade
Não é justa, nem racional
É caprichosa"

"Quem morre se vai
Aqueles que ficam no mundo precisam continuar
e fazer de nossa passagem aqui um paraíso
ou inferno"

"A vida é como a matéria, não pode ser criada nem destruída
Só muda de estado.
A roda gira e a vida continua
Pessoas morrem, coisas morrem,
mas o processo da vida não para"

Mais de seis mil anos de existência
"Mortes por empalamento em ecúleos e fogueiras
por balas inglesas e balas americanas e balas nazistas
e a vida continua...
'O último inimigo que será destruído é a morte!'
Isso só vai acontecer quando as pessoas perderem o medo"

Fazem mais bombas
Arrasam mais matas
Qual lado escolhemos: Calados enquanto expropriam nossos direitos
Calados enquanto devoram tudo que Deus nos deu
Ou lutar até à morte... ou até à vida, em defesa de tudo que é bom e as pessoas persistem em desistir?

"Ela viu ele se despedir rumo a uma solidão selvagem
e o viu achar um local deserto e deitar para morrer
como oferenda voluntária de um sacrifício
Viu os comensais chegando ao banquete
para se refestelarem na aberrante carne
e os viu rasgarem e devorarem o corpo para satisfazer com selvageria suas necessidades
...
E quando ela pensou que ele tivesse partido pra sempre rumo ao esquecimento e à extinção
e sido triturado pelo movimento eterno dos molares da natureza e disperso em meio a tudo
Ela o viu emergir e tentar agarrar a luz
Então acordou sobressaltada com essa perturbação de seu equilíbrio,
porém acalentada por uma vaga esperança
Por um aroma novo no ar".

Correria para mim? Ou de mim?

"Engolfada pela força furiosa do amor
Anestesiada pela ânsia feroz de socorrer
Rosnando, gemendo, suando, gritando e arfando
Ela cava através da dor e exaustão
Até conseguir extraí-lo, escorregadio de lama e sangue
Então ambos rolam chorando de felicidade... e amor".

Será que alguém vai descobrir meu casulo que tanto me sufoca?
Eu, Lázaro, não sei remover pedras de meu sepulcro sozinho
Vem como uma baloeira, com seus balões, resgatar-me do abismo da minha jornada terrível
Dá-me as duas mãos tuas, eu imploro, arranca-me desse labirinto que eu mesmo construí
Antes que meu Minotauro, a solidão, venha me destruir
Vem, meu anjo feminino, meu Ícaro de saias, me faz flutuar rumo ao sol
Para disputar com ele quem brilha mais: Ele ou nós dois, estrelas gêmeas

Ninguém ouviu o grito desse bebê que tenta renascer do útero da morte
Amor meu, será que só poderei te visitar mesmo em seu sepulcro?
Será que rirás da morte e de seu aguilhão pérfido algum dia?

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