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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Lamentável Canção do Incenso da Morte


"Por que te abates, oh minh'alma, e te perturbas em mim perdendo a calma?"
Esses lábios que eu sempre desejei passearem nos meus estão tão longe
A rainha está realmente morta e ninguém fez nenhum velório
O suor no meu rosto e a crueza dos sentimentos ninguém aguenta mais

Nosso egoísmo é nosso deus maior na nossa casamata de ídolos chamada coração
E usamos o papo eterno de que "o fato dos outros sofrerem mais que eu não diminui o meu sofrer"
Não devia diminuir, deveria exterminar mesmo
A maior parte do nosso sofrimento advém de más escolhas e teimosias e também a concupiscência

E buscamos salvadores da pátria a cada dois ou quatro anos
E elegemos bodes expiatórios a cada notícia da TV, jornal ou revista
Usamos nossas mãos e bocas para despejar toda a fossa que cultivamos dentro de nós
Comemos nosso esterco e bebemos de nossa urina de cada dia nos dão hoje

Ah chatice do qual eu sou rei, com orgulho e afinco num planeta de chorões por encomenda
Ninguém chora pela desgraça a qual caminhamos nós para o beijo fatal
Mas choramos por unhas quebradas, carros que não compramos, falsas paixões de novela das seis
Clamamos por revolução lá fora, mas dentro de casa o cetro do ditador é meu e ninguém tirará jamais

Já me criticaram por tantas fezes que já não tem onde se decompor tudo isso
Minha vida não mudou um centímetro, nem a de ninguém, continuamos indo pra baixo
Nosso rumo ao colapso é nossa evolução infinita nessa estrada idiota que pegamos como atalho
Mandem abraços à dona Morte, ela está louca para nos encontrar na próxima estação

Se você acha que isso é ser depressivo, negativista, pessimista ou algum elogio similar
Talvez seja muito pior na realidade, pois é o que a realidade é, conviva com isso
Agradeça seu pão dormido, sua camiseta rasgada e seu colchão duro
É o melhor quarto de um rei quando se sabe que a vida é curta, cruel, tola e vaga

Não se conforme com a miséria, mas também não pise nos miseráveis em busca de um lugar ao sol
Eu não preciso de abraços hipócritas, mas também não viremos geleiras impenetráveis
Não sigamos as famas e modas, no fim elas se tornam como os hits de um carnaval qualquer
Irritam e incomodam por alguns meses, depois viram como nós, pó e cinzas

"...antes que venham os maus dias e cheguem os anos que dirás:
'Não tenho nenhuma alegria nesses dias que vivo agora'."
O tempo está chegando... e eu não sei se lembrei o suficiente do Criador
Continuo a perder mais tempo reclamando do que agradecendo por cada pedaço de graça diário...

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