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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Memorando de momentos que ainda são apenas sonho


Quanto maior a memória, maiores as coleções de frustrações
Quanto maior o conhecimento, maiores as responsabilidades
E o conhecer que mais nos deveria servir de fardo e pensar:
"Só sei que nada sei"

Somos tão pequenos, tão tolos pós e cinzas na imensidão espacial
Mas nossa genial tolice ainda nos quer fazer tronos de vento e fumaça
Assentados no esterco e abrindo enlatados de autossuficiência estragados
Filosofia dos sofistas, ser a medida de todas as coisas
Quando não medimos nem consequências nem nossos atos

A verdade é que não sabemos nem o que queremos
Reclamamos demais da vida, murmuramos demais com tudo
Dizemos que ao nosso redor está infestado de gente podre, imunda, errada
Mas zombamos e ironizamos as pessoas que continuam tentando ser puras
A quem tentamos enganar?
Não conhecemos nem a nós mesmos e queremos determinar o que os outros são

O vale da sombra da morte parece uma cama quentinha pra alguns de nós
Nos conformamos em lanchar no restaurante do Sheol
Consumir nossas misérias sob o perfume agradável das carcaças em decomposição
É divertido apodrecer em nossa cadeira de balanço devorado pelos vermes do conformismo

Cansei de esperar no banco do juiz da incompetência hipócrita
De tentar impor um padrão de perfeição que eu mesmo não pratico
nem mesmo serve pra nada a não ser tornar a todos vitrines vazias

Quando as carapuças já têm donos, a execução é sumária
Mas as vezes ignoramos que somos tão culpados quanto
De esse mundo ser um assassino de amores, de sentimentos
Preferimos levar uma rosa de papelão e um cuspe acumulado nos pulmões
Para o enterro das últimas quimeras, panteras devoram meu cadáver

Ainda há esperança para nós... ou nossos nós nos parecem melhores
Nossas algemas e grilhões que nos impedem de dizer "te amo" pra quem desejamos
Desejos perdidos na gaveta suja aguardando as traças fazerem seu banquete
Poemas amarrotados não deixam as flores nascerem
Mas ainda preferimos nossos sarcófagos, eles são dourados como bijouteria
Não valem nada, mas iludem bem tolos como nós

Estou cansado de descansar na cama feita com os ossos dos que desistiram de tudo
Esse vale não me vale a pena continuar morto e enterrado por aqui
Aquele que crê, mesmo após morto continua vivo e indestrutível
Ninguém será capaz de me deixar incrédulo que o amor ainda brilha no espaço ali à noite
Que os "Cantares de Salomão" não são uma bela peça de teatro irreal
Nem que as ficções da TV e cinema são apenas entorpecentes para sonhadores insandecidos
Eu posso nos tornar reais, mais belo que os recifes de corais
Eu sei que não sou um idiota que todos leem, aplaudem e dizem "bonito, mas besta"
Toda essa besteira faz sentido pra quem entende que precisa voltar ao primeiro amor
Aos tempos da velha inocência que brincar de casinha era um prelúdio do mais puro gesto
E um futuro que ninguém conseguirá destroçar, nem as águas do mar

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