Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

sábado, 9 de janeiro de 2016

Revoada dos Desejos


"Não cante vitória muito cedo não, nem leve flores pra cova do inimigo"
Ah, sons do Ceará, Belchior e Fagner, e o Pavão Mysteriozo do Ednardo
Chora o velho rei cansado por ter desperdiçado tanto tempo distante do amar
Esse grão de amor vira um grande amor, um tanto, um tonto, mas tão grande
Sacumé, sei como o tam tam e o ziriguidum do coração não sabe mais parar
Pois se estacionar, o riacho da vida vai desaguar na casa dos pés juntos
Revoada e a Santa Fé continuam a circular nesses céus sem querer migrar daqui
É isso e mais a esperança em fôlegos mais sossegados que me mantém vivo

Mas os bichos de sete cabeças persistem em advir do dionisíaco da humanidade
Destruindo o que de beleza se tenta construir nesse jardim das delícias
Dois rios que correm para nunca afluírem num só, litoral e serra continuam em seu lugar
A cor do som é cinza, o gosto dessa cantoria é tão amargo, cheira à desafino, desatino

E pessoas entram em nossas casas para tumultuar e conversar sobre nós
o que não sabem e o que não lhes interessa saber eles tentam saquear
Alguns vão falar de meus atos com gestos indigestos que jamais gesticulei
Interpretações de um filme da minha vida que causaria vergonha até em mim
Mas que passam longe da realidade e até da ficção, reflexão de espelhos opacos
Não sabem esses seres leprosos não da pele, mas da sensibilidade
Que toda a dor é quase um alívio para quem tanto sofreu em braços traidores
E sabe que um dia Os Braços do Criador me ninarão, e afagos suaves também virão

Num caleidoscópio em que glúteos psicodélicos rebolam e embolam os olhos da carne
Os olhos do espírito choram o sangue dos que dormem na cama e nos lençóis da ilusão
E um retumbante ressoar de sabes-tudo, abestados despejam sua sabedoria ignorante
E depois posam como as vítimas da neo-inquisição que eles mesmos presidem

A canção tem som de bundas batendo palmas no rosto da velha senhora chamada ética
Estética antiética das cirurgias para tentar assimilar uma beleza passageira e brejeira
Que no brejo vai descansar igual ao pó e cinzas de nosso toucinho e bacon humano
Essa feijoada acabará dando uma congestão, na gestão dos dejetos ambulantes da sociedade
Aquele visual turístico nada agradável que vive (ou vegeta) na beira da Rua da Aurora
Em busca de sustento para o vício que tira o ostento de qualquer tento de sua velha belezura
Amargura, não há cura, pois preferimos a eutanásia que bebe todos os dias no nosso riacho
Até não deixar nenhum rastro, só rachos, diachos, capachos do destino que decidimos nos prender

Será que não pensamos um dia só que o Dono do Existir não nos criou pra essa rasa piscina?
Releve minhas pesadas letras e palavras e versos e estrofes, strogonoffs estragados
Meus pêsames, expressão que cansei de pesar e repisar em tantas balanças por aí
Agora quero mais é recomendar a vida, reviver, e ver como é bom contigo conviver

Deve ser
Devo ser
Antes de querência do teu ser
Intersecção, interceder, conceder, merecer você, me merecer, crescer, unir num só ser   

Nenhum comentário:

Postar um comentário