Textos poéticos/contos/crônicas todas terças, quintas e sábados... ou quando a inspiração mandar...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

12 Contos, Encantos e Desencontros



I

Quando você conversa com seus velhos amigos e paixões
e eles visualizam o que você mandou, mas não respondem nada
Quando velhas amizades se destroem por bobagens e besteiras
Quando prestes a se separar de alguém que te criou e cuidou de você
 O céu fica igual hoje, cinza, nublado, sem graça, sem sol

Não curto indiretas, gosto de ir direto ao ponto, direto em seus braços
Mas desembaraços me impedem de ser bem-sucedido nos meus intentos
São tantas decepções, tantos fardos
Oasis de menos, poeira desértica demais da conta
E tudo que escuto são os mesmos profetas da Laranja Mecânica
que Belchior um dia denunciou
"Não vai melhorar nada"
Se não vai, sentem e morram, a vida é um lixo, desistam.

II

Se quer mesmo se preocupar com algum jovem negro
preocupe-se comigo, não com o cara da esquina que afanou sua carteira
Esse último a polícia pode se preocupar sozinha
Isso se você parar de demonizar todos por alguns
Ou é modismo da sua parte, ou é idiotice pura
ou é prisão de uma ideologia porca que tudo vê como errado, desde que sirva a seus inimigos

A gente é tão prisioneiro do que é mania
Mudamos as cores das fotos e jogamos games imbecis
"Todo mundo faz"

Faz diferença, enfim?

Enquanto isso esses mesmos utópicos de plantão
Estão vendo a cor do biquíni para pegar um bronze domingo que vem
Em Porto de Galinhas

III

Os jornais me angustiam
Não sei qual o pior
Aquele que enfatiza os podres do governo
ou o do opositor
Num chiqueiro não dá pra dizer qual porco está mais ou menos sujo
mas do jeito que tá nenhum vai pro céu, nem o da boca
Não gosto de carne suja, de sujeira já basta a que faço todo dia no WC

Confusões reinando, pessoas sofrendo, apanhando, se matando
E nossos celulares filmando para postar o melhor lance no Whatsapp
"Manda nudes"
E depois o choro quando toda sua nudez foi castigada
Após as masturbações cessarem e os xingamentos começarem

Sorria, meu bem, sorria
Você está na Record!

(Eu sei, você preferia estar na Globo, mas foi o que o jabá deu pra pagar)

IV

O suor escorre quando passo de bicicleta e o vento sacode meus cabelos
ou seria o vapor, a bruma do que sobrou do pulmão
de uma tragada de nicotina, maconha, crack
ou seja lá que droga é essa que dizem que faz bem, mas acho que faz um mal danado

Estou na coleira
Igual Bobi, meu cachorro de estimação
Acho eu que ele é mais livre que eu
Pois ele pode latir onde eu não posso
Au Au Au
Sai fora do meu quintal!

V

Cansado dos sorrisos bonitos
Não se traduzirem em gargalhadas no meu íntimo
Nem de os lábios que sorriem assim não colidirem com os meus

Minha vontade de abraçar se esbarra na impossibilidade de abraçar o vento
Afinal vento não se estoca, pelo menos acho que todos sabem disso
A não ser os cabeças-de-vento espalhados por aí afora
que não percebem que a chuva está caindo lá fora

"Que as coisas mais loucas e idiotas virem rotina para nos alegrar"

VI

Não sei cozer
Nem coser roupas novas
Então não me infernize, não sou tão moderno assim
Nem mesmo perfeito
Se fosse perfeito não precisava escrever poesias
Lamentando minha sina de ser só e somente só eu

Enciclopédias do avesso já escrevi
em vida e em ficção
"O que você faz pra ser feliz?"
Clarice, meu bem, não sei ao certo
mas bem que tento descobrir
Quem sabe enfrentar meu medo de altura no bondinho do Pão de Açúcar
ou dar uma desfibrilação no meus sentimentos pra ver se eles ressuscitam

VII

Jiló, quiabo e maxixe
Chocolate amargo, vinagre e alho
Com uma pitadinha de limão e pimenta-do-reino
pra me fazer expelir fogo pela boca igual desenho animado
ou quem sabe ressuscitar meu vigor de algum jeito

Porque quando ligo a televisão
ou mesmo meu notebook
vai lá, meu smartphone
Não sei mais como levantar do meu sarcófago
Vontade de ser mumificado
Quiçá se um dia eu despertar com os faraós
Governar um mundo melhor e que preste até lá

VIII

Não sei o que é sofrer aqueles dias que você sofre sempre
mas faria de tudo pra compartilhar essa dor

Não é hipócrita nem coisa de viado, bicha, machista ou que merda vocês falam agora
Ser cavalheiro, gentil, cortês, ser o homem dos sonhos de alguém
E saber absorver e degustar de maneira precisa o aroma de lábios carnudos
E a maciez de suas lisas madeixas

IX

Meu eu-lírico não sabe tocar lira
E minha tragicomédia não faz ninguém chorar ou sorrir
Meu olhar 43 está cego
Mas queria que o seu não fosse miope

E me amasse mesmo nos dias em que eu estiver com os olhos de remela
Banhado de suor e com o perfume malcheiroso do dia-a-dia
E não perca tempo na internet discutindo esquerda, direita ou outro lado qualquer
Muito menos choramingue pela falta de uma conversa virtual
Eu prefiro visual no visual, olho no olho, boca na boca
Eu e você, você e eu

X

Se pedíssemos ao gênio da lâmpada
que ele realizasse no nosso desejo que todos fossem felizes
Provavelmente o desejo não ia rolar
O gênio não ia querer perder o seu emprego tão fácil

Escaletas e ukulelês e sítaras tocam e fazem trilhas sonoras
Mas não conseguem abafar minha fúria
Fúria contra a solidão, o desamor, a falta de caráter e de humanismo,
Contra todo maldito coração de pedra que persiste em se lançar e ferir e apedrejar
a todos que ainda sabem o que é amar, mas não conseguem nem amar nem ser amados

Eu não sou bom, nem ninguém o é
Mas eu tento a cada dia melhorar
E ao meu redor só vejo pessoas "boas"
que pioram a cada dia mais
e ferem tudo e todos como gladiadores numa arena de escravos

XI

Não adianta, as pessoas julgam meu coração
Acham ter a balança de Osiris para tentar determinar que estou errado
Não disse jamais que estava certo
Mas estou incerto de que o resto desse mundo está

Se meu coração chorasse
Meus olhos bombeariam sangue tamanho o cansaço que estou desse desamor e incompreensão
Mas acredito em Deus, acredito no Criador do amor

 
XII

Escrevi em papeis de carta, A4, Ofício, pautado, caderno, papel jornal, sites e blogs
Com caneta, lápis, hidrocor, giz, piloto, tijolo, datilografia, digitação, sangue
Em quase doze anos, doze partes de um mesmo poema
E o poema sou eu

E meu mal continua sendo o mesmo:
Eu acredito ainda no amor, fazer o que...
"Existe vida após o amor?
Há quem diga que sim, mas eu vou te dizer
O amor nos faz nascer de novo".



Nenhum comentário:

Postar um comentário